sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O Livro do Desespero

Nesta história o Vampiro Neculai encontra 
uma escritora para fazer o seu livro 



─ Alô!
─ Helena. Meu nome é Neculai.
─ Meus pêsames. Já vi nomes mais saudáveis. 
─ Sua ironia só me deixa mais confiante Escritora. 
─ Já está um ponto a minha frente. Sabe meu nome e minha profissão. Melhor eu parar de responder formulários para ganhar brindes na internet. 
─ Escritores adoram responder perguntas contanto que não perguntem o que acha dos seus amigos escritores.  
─ Eu me dou muito bem com meus amigos escritores. Respondo todos os cartões de Natal na Pascoa e me desculpo sempre por estar atarefada. 
─ Sua sinceridade é tão evidente. Chego a pensar em sua rapidez para desviar de certas perguntas.
─ Se você me disser o que quer, posso ser mais rápida do que pensa.
─ Quero que escreva meu livro. 
─ Não! Viu só? E nem pisquei. Agora se me dá licença eu tenho um boneco vodu do meu editor para fazer. 
─ Não precisa perder tempo com bonecos. Eu posso conversar com seu editor. Tenho certeza que ele vai me ouvir. 
─ Neculai. Se meu editor der atenção para você, eu escrevo seu livro.
─  Acho que você está curiosa. Mesmo sabendo quem sou. Pelos jornais e a mídia. Ou a piadas que mando para o meu Fã Clube.
─ Confesso que você é uma personalidade perigosa que me deixa imaginando até onde acha que pode ir.
─ As possibilidades são infinitas. Os homem podem nascer e morrer ou nascer e governar. Os vampiros podem fazer as duas coisas uma centena de vezes pela eternidade.
─ Se me deixar escrever sua história colocarei seus méritos de Transtorno de personalidade Narcisista e Manipulador e olha que eu ainda nem te conheço pessoalmente.
─ Vejo que meu livro está em boas mãos. Será um Best Sellers! Todos vão querer um exemplar. Este livro será um ótimo instrumentos para me conhecerem mais.
─ Tem certeza que não prefere um psicanalista? Eu conheço vários.
─ Pegue um roupão e coloque junto com o seu celular.
─ Vai aparecer para mim? Pode vir do jeito que está. Eu juro que fecho os olhos se eu ver algo absolutamente estranho.
─ Então... O que acha? 
─ Quer minha opinião? Então tá. Definitivamente vou desinfetar esta mesa depois que sair daí. 
─ E meus olhos vermelhos?
─ Devem ser úteis quando não tiver luz.
─ Você vive sem ninguém?
─ Claro que não. Vivo com a solidão. Ela me acompanha sempre. Somos parceiras inseparáveis embora ela fique deprimida as vezes. 
─ Costuma dançar? 
─ Sim. Eu aprecio a dança. 
─ Seja minha convidada, mas só danço bem colado. 
─ Sabe. Neculai. Você me parece ser uma boa pessoa. Não vejo motivos para ser o que é. Digo. Um assassino. 
─ A necessidade me fez assim. A vontade de querer sempre mais. É um desejo incontrolável que tenho.
─ É um garoto mimado, Neculai
─ Com poderes de deuses, Helena.
─ Vai morrer antes de conhecer todos os seus poderes.
─ Meu legado vai continuar vivendo.
─ Castelos desmoronam Neculai.
─ O tempo todo Helena. Acha que danço bem?
─ Não se atreva a parar de dançar ou seu livro terá apenas 10 páginas cheias de palavrões.
─ Do jeito que este mundo está, comprariam o livro mesmo assim e ainda viraria um filme. 
─ O mundo gráfico mudou Neculai, mas se quer um livro que venda muito então será mostrando a sua dor.
─ Isso deixaria as pessoas comovidas com minha história.
─ Sim e poderíamos fazer uma noite de autógrafos onde poderia contar um pouco da sua vida.
─ Algo triste imagino.
─ Sim! Sim. Bem do estilo, "Eu tinha uma mãe que era uma bruxa e foi queimada pelo povo que não sabia o que estava fazendo." Sabe... isso tocaria o coração de todos.
─ Eu prefiro meu estilo. "Se não comprarem o meu livro agora vocês nunca mais voltarão para casa." Ha Ha Ha 
─ Se faz Isso com os leitores imagino o que faria com os críticos. 
─ Críticos. É só dar o que eles querem. Atenção. Até mesmo um grande "olá" é tudo que eles sonham em ter, pois eles se esforçam muito para poder achar algo em seu texto. Uma devida atenção rápida é o suficiente para o critico virar admirador. Se isso não bastar minhas amigas descobrem tudo sobre ele e dão um jeito como sempre acontece por aí. Mas se eu estiver com fome. Eu mesmo resolvo. Ha Ha Ha
─ Você já tem algum plano de venda? 
─ Sim. Tenho uma equipe que está trabalhando nisso. O livro venderá sozinho. Não pretendo ir nos lançamentos, mas certamente serão sorteados alguns leitores para jantar comigo. Já providenciaram o local. Serão 400 leitores.  
─ Você pensa em tudo mesmo Neculai.
─ Neste jantar eu não contarei uma história triste como alguns escritores fazem. Contarei o que eles querem ouvir. A verdade! 
─ A verdade seria...
─ Liberdade Helena! A nossa dança é uma liberdade. Nossa vontade, nossos desejos, nossas loucuras, nossos toques nossos,... Espere! Você deve me pedir autorização antes de me beijar. 
─ Mas isso não seria liberdade Neculai e por que está apertando a minha cintura?
─ Estava conversando com seu corpo e pela conversa você tem alguns problemas. Você é alcoólatra. 
─ Como sabe disso só com um toque? 
─ Bem... você tem uma boa coleção de vinho por aqui. Tem garrafa vazia na sua mesa e copos com cheiro de vinho e...
─ Está bem me convenceu, mas o que fez? 
─ Restaurei o seu corpo, mais precisamente o seu fígado, de outro modo morreria em dois anos. 
─ V-você... e-eu não...
─ Providencie o meu livro Helena. Será uma escritora mais famosa do que já é. Pode parar de me abraçar? 
─ Não consigo... Você é... bem... Um vampiro bem desejável. 
─ Também sou um assassino perigoso e eu uso as pessoas lembra? 
─ Depois do que faz. Não me admira que tenha muitos fãs. Porém eu tenho um problema. Posso fazer o livro em um mês mas a editora que eu acho que seja a certa para este tipo de livro, está querendo lançar um de vampiros nesta mesma época e talvez este nosso fique encalhado lá. Eu lembro que falei com o autor. Ele ia na editora amanha para entregar o original do livro dele e também assinar o contrato. 
─ Por um acaso você teria o celular deste escritor? 
─ Pensei que nunca iria pedir Neculai. Só mais uma coisa. Ele tem medo de altura. Espero que você se divirta.
─ Eu sempre sou o dono do Show! 

...

─ Alô!
─ Cassio Hestel o escritor que vai lançar um livro de vampiros? 

─ Sim! Sou eu mesmo. Pelo jeito o pessoal já está divulgando bem. Eu estou saindo do apartamento agora para ir na editora acertar os detalhes. Quem está falando?
─ Neculai! 
─ Espera... Você é aquele da TV? o que todo mundo está tentando caçar? Puxa! Mas que maravilha! Foi praticamente por sua causa que escrevi este livro. Bom Espero que não leve para o lado pessoal... é só negócios. Sabe... Você levou o tema vampiro para todas as mídias e todo mundo está procurando novos livros de vampiros. Foi por isso que escrevi este. A editora me chamou correndo e agora estou indo para lá assinar contrato. 
─ Eu vou ajudá-lo a me conhecer melhor.
─ Não vejo como isso vai me ajudar agora. Eu já escrevi a obra e estou levando os originais para a editora. 
─ Aqueles que estão no envelope que estão na beirada da janela? 
─ Vai cair! O vento! O envelope abriu. Minhas folhas estão voando! 
─ Essa vai ser sua menor preocupação.
─ Mas que droga! O envelope caiu na rua e está chovendo muito. Nunca vou conseguir alcançar a tempo.
─ Quer uma ajuda? 
─ Espera! Acho que tem alguém no meu apartamento! Mas como você chegou tão rap...Me solta! Vou cair!
─ Ma você não queria uma aventura com um vampiro? Estamos tendo uma aventura e tanto. Está gostando? Eu estou segurando você pelos seus pês e está de cabeça para baixo na janela. Consegue pegar sua folhas no ar? 
─ Para com isso! Me põe no chão! Eu confesso! Fiz um personagem vampiro igual a você! É só Negócio! Se quiser podemos dividir a renda! Agora me solta! 
─ Lã no chão? Lá embaixo? 
─ Não! Não! Me leva de volta para dentro! 
─ Mas você precisa do original para levar para a editora.
─ Eu vou imprimir novamente! Agora me leva para dentro. 
─ Eu não posso. Estou com fome. O sol está começando a queimar meu braço... Estou com vontade de coçar o nariz... Vou ter que te soltar. 
─ Não! Por favor eu faço qualquer coisa! Não me solta! 
─ Quero que saiba que não tenho nada contra você...
─ P-por favor! Socorro alguém ajuda aqui!
─ Como você mesmo disse Não é nada pessoal, é só negócio. Está escorregando aqui!
─ Socorro! 
─ Acho que já está bom.
─ O-oque? n-não me toque p-po... 
─ As vezes é mais fácil quando sabemos as fraquezas das pessoas. Mas acho irônico um escritor de vampiros ter medo de altura. O destino foi implacável e eu até achei que iria voar. Ah o seu sangue Cássio estava muito bom ainda mais com esta dose de desespero... Agora nada vai me impedir de ter o meu livro. 


Por Adriano Siqueira






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