quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O Prazer Eterno - uma história de horror, sedução e magia




Cadastre-se no The Tred, dizia um site de vampiros.
Cadastre-se e seja um de nós... Eterno e cheio de prazeres.
É lógico que eu queria isso... Quem não quer? Mentira? Claro que era. Mas a ansiedade misturada com a curiosidade não deixava que eu recuasse. Então, deixando as ironias de lado, eu cliquei no botão cadastrar... um bonito visual apareceu... Cores bonitas! Visuais gráficos muito bons, porém achei um exagero fazer um visual desse apenas para um cadastro simples, mas fiquei lá olhando... Até que apareceram olhos... Olhos de uma mulher... As cores agora formavam a sua face e sua boca, muito sexy com um batom vermelho, e as mãos mexendo no cabelo estavam como que dançando na tela.
Eu queria copiar aquilo. Era magnífico, mágico e místico. Quando ouvi sua voz, fiquei quase que hipnotizado. Então eu dei o comando "Print-Screen" por instinto (costumava fazer isso para copiar algo interessante, assim fica mais fácil para ver on-line as imagens na net) rezando para conseguir capturar a imagem.

— Então você me quer?

-Claro! Claro que sim! Como faço? Eu quero! - Eu digitava afoito no teclado, como se estivesse falando com ela cara a cara, e clicava no meio do rosto dela, tentando achar um botão ou abrir um link. De alguma maneira, não poderia terminar ali, eu precisava continuar. Desesperado por pensar que o programa travou ou que tivesse simplesmente caído o sinal, ouvi mais uma vez a voz dela...

— Venha...!

Naquele exato momento, eu sentia meu corpo sofrer transformações que eu não conseguia explicar. Estava tonto e meus olhos estavam distorcendo tudo o que via - já não conseguia mais identificar nem as letras do teclado. A cor da minha camisa se misturava com as cores da mesa e do computador... Tudo ficou de uma cor só. Uma cor rubra. Eu sentia que estava cego... Aquela cor estava por todo o lugar e meu corpo estava flutuando, como se estivesse dentro de uma grande piscina cheia d´àgua... Mas respirando.
Um túnel se formou à minha frente e uma pequena luz apareceu. No final desse túnel, havia uma mulher acorrentada e perdida em desejos insanos, Eu não via nada naquele lugar para ter o tanto de prazer que ela aparentava, por causa dos movimentos que fazia com o corpo. Aquele sorriso, como se ela estivesse mesmo vivendo momentos de luxúria e sedução. Achei que ela estava sonhando ou estivesse drogada.
Antes que eu olhasse para os lados e percebesse que as nuvens de cor rubra tinham se transformado em paredes, ela acordou. estava assustada como se tivesse saido de um pesadelo e gritou para mim:

— Corra! Saia daqui... Sou investigadora de sites da Internet e isso não real é...
— Por quê? O que está havendo?

Nada. Nenhuma resposta. Do jeito que ela acordou, ela voltou a ter aquele sorriso. Fechando os olhos e voltando a um prazer que não entendia.
Uma mulher apareceu. Diferente do que eu achava que encontraria lá (uma vampira ou uma bruxa), vi apenas uma mulher com asas de anjo. Chegou perto de mim e disse que seu nome era Cristina e que eu teria o prazer que tanto procurava. Não como aquela mulher que estava lá vivendo feliz e sempre satisfeita de prazeres, sejam eles quais forem, mas que seria melhor bem melhor que aquilo.
Ela segurou meu braço e foi me levando para um lugar alto e mostrou para mim que não tinha só aquela mulher, mas muitas pessoas estavam da mesma maneira que ela.

— Sonhos, meu cavaleiro. Aqui todos eles se realizam.
— Não estou vendo nada. Estou vendo apenas muitas pessoas aprisionadas.

Cristina me abraçou e disse em voz baixa.
— Eles são felizes. Cuido bem deles. Você. Eu quero você para me ajudar e para ficar comigo. Embora aqui tenha muitas pessoas, eu me sinto só. Eles não me desejam...
Apareceu um espelho e ela olhou como se estivesse em transe como eles:

— Eu sou tão linda. Tão linda e ninguém ali embaixo sonha comigo. Uma rainha com reino e súditos, mas sem rei. Juntos, realizaremos todos os seus desejos... Eternamente.

Talvez ela não estivesse mentindo. Afinal, todos tinham seus sonhos particulares. E, mesmo assim, não deixava de pensar se ela fez essa proposta para todos que entraram no seu reino, e que a resposta seria algo como "Não quero, sua bruxa!" era uma resposta perigosa e mortal. Eu estaria em sérias complicações. Precisava pensar com calma. Precisava de tempo. Tempo para achar uma saída. Em todo o caso, o jogo estava apenas começando.
Uma cama, com várias luzes e móveis do estilo colonial apareceram ao meu redor, e aquele lugar onde estávamos se transformou em um verdadeiro paraíso. Será que tudo aquilo era real? Era minha mente que ela estava lendo? Afinal, eu estava mesmo ali?
Debatendo minhas dúvidas, as palavras dela estavam ficando mais altas. Dominar, ser Rei, teria sua companhia para sempre. Ela sabia que eu estava procurando uma saída.
Quando meus dedos passaram pelo seu cabelo, senti que uma parte parecia ter tocado meu teclado. Um calafrio correu a minha espinha. Será? Estaria meus olhos sendo enganados pela magia desta mulher?
Um computador apareceu no quarto.

— Era isso que queria, meu rei?

Ela tentava me persuadir. Estava começando a conhecer o seu jogo.
Sentei no computador... Tentei imaginar o começo de tudo... O site... The Tred... Cristina me guiando... O maldito Print-Screen, que agora eu acionava imaginando o desejo de vê-la como ela realmente é. E apertei a tecla Print-Screen novamente e finalmente a tela me mostrou a sua verdadeira forma. Um demônio apareceu... O encanto estava quebrado para mim e finalmente consegui ver a sua horrível face. Mas, e ela?
Gritando de raiva, Cristina me jogou a metros de distância. Fiquei bem no fundo do quarto. Aquela criatura monstruosa via a sua face como realmente era, quase que hipnotizada. Presa a sua própria imagem horrenda, o mundo que a cercava estava desaparecendo e com ela junto. Eu não sabia como sair disso, então corri para o túnel – para onde todos estavam correndo apavorados.
Cada um voltava para sua realidade enquanto eu corria e via tudo se destroir em minha volta.
Até que finalmente encontrei meu quarto e fui em sua direção.
Ácordei na minha cadeira. na frente do computador.
Será que foi tudo um pesadelo? Um mundo que lhe dava todo o prazer que quisesse? E o prazer eterno permanece prazer?

Essas perguntas nunca serão respondidas.



Autor: Adriano Siqueira

4 comentários:

Tiago Santana disse...

Gostei do texto. Da forma que passou os detalhes e contou a história. Parabéns. :)

Deze Rezende disse...

Também gostei da história! Muito boa! =D

Nina disse...

Obrigada Adriano, o seu blog tb é excelente, o conteúdo então, nem precisa ficar descrevendo muito né?=)

Adorei esse texto, adoro contos assim, mais tarde volto aqui pra ler mais...=)

Tenha um bom dia.
Abçs,
.::Clau::.

Tânia Souza disse...

Oi Adriano, adorei esse conto, do terror vindo de um clique à dor, angústia, medo à um retrado do nada. Inspirador, parabéns!!!!!!