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segunda-feira, 23 de junho de 2014

Estou voltando para casa - conto FC



Estou voltando para casa
Por Adriano Siqueira


— Eram 10 horas da noite. Faltava apenas uma esquina para chegar casa. Minhas pernas estavam doendo de tanto andar e o frio não ajudava. Eu estava ansioso para chegar em casa. Queria apenas um bom conhaque e um pouco de conforto.

 Contava os passos para não pensar no frio e nem no cansaço. Quando vi a minha casa dei um sorriso. Que sentimento bom. Eu acelerava os passos. A ansiedade aumentava. 

 Ao chegar no portão notei que poucas luzes estavam acessas. Parecia que a noite seria normal e tranqüila. Minha família. As crianças e a Priscila. Quantas saudades.

 Subindo as escadas da frente da minha casa encontrei a porta da entrada aberta. Achei estranho... Não havia nenhum barulho das crianças. Engoli seco. Andei lentamente. A luz da sala estava apagada. Tinha apenas a luz do corredor acessa. Ouvi vozes... Vinha do quarto das crianças que ficava no andar de cima. Atravessei a sala e subi as escadas e fui lentamente em direção ao quarto. Silenciosamente tentava escutar o que eles falavam. Cochichos... À medida que eu aproximava as vozes aumentavam. Finalmente consegui ouvir claramente a conversa.

 Mãe! Foi o melhor que pude fazer!

 Estamos vendo filha...! Rode logo o programa.

 Certo.

 Fátima! A minha filha! E está bem crescida! Ela estava no computador mostrando um programa para toda a família que estavam lá. Minha mãe, minha esposa e filha. Ela apertou a tecla enter e o programa que parece com um 3D começou a funcionar.

 Aqui mesmo mãe. Hoje faz 10 anos que aconteceu! Foi exatamente assim. O ônibus passa por esta curva na estrada, derrapa e cai na ribanceira. Desgovernado o ônibus bate em uma pedra e o Vovô é o primeiro a falecer. Atingido por um ferro que se desprendeu do banco. Sua cabeça foi jogada para fora do ônibus. 

 Meu Deus? - Do que eles estão falando?
 Quando o ônibus virou Léo foi o segundo a morrer com traumatismo craniano.
 Léo? Meu filho? Meu Deus!!! Que loucura é essa?

 Quando finalmente o ônibus parou... Papai estava sentado no banco em choque e em seguida entrou em coma e assim ele está até hoje. 

 Eu? Em coma? 

 Mãe? Acha que ele volta?

 Esperança Filha! Só temos esperança e muita fé!

 Não pode ser! - Sentei perto da beirada da porta e as imagens do acidente passavam pela minha mente.

 É verdade! Devo estar louco mas é verdade! Eu sinto a minha cama. Sinto meus dedos se mexerem! Estou ouvindo a voz dos médicos...

 Desliguem o aparelho. 

 Tem certeza senhor?

 Sim! A família autorizou!

 Não!!! Não desliguem!!! Eles não me ouvem! Preciso fazer algo. Eu ainda ouço a minha família falar.

 Mãe! Eu sinto ele!

 Oh Filha! O que esta dizendo. 

 Mãe temos esperança não é?

 Eu eu,... Filha eu pedi para desligar!

 MÃE?? Não! 

 Eu queria fazer algo! Mesmo sabendo que elas não me vêem. Eu me encostei no computador e ele apitou deu uma piscada na tela e todos ficaram olhando...

 O meu boneco 3d que estava sentando estático levanta e abre os braços. Minha mãe desmaia na hora e a minha esposa corre para o telefone.

 Não Desliguem nada!... Como?... O médico já está lá! Sim sim eu sei que assinei o papel! Por favor! Eu sei que ele está bem!

 Os aparelhos estavam sendo desligados... Eu sentia isso! É mesmo o fim! Não adiantou nada estar aqui! Não sinto mais o meu corpo. Minha mulher chorava muito. Eu tentei acalma-la. A culpa não era dela. Já havia esperado 10 anos. Eu disse:

 Acalme-se! A culpa não é sua!

 Ela levantou a cabeça... - Ele está aqui! 

 Ela me ouviu! Realmente ela ouviu! - Querida! 

 A voz dele mãe... Ela vem do computador!

 O boneco 3D estava levantando e abaixando os braços. De algum modo ele, agora, era eu!

 Filha... que bom te ver.

 Vejo a minha mãe acordar e chorar de alegria. Eu não sei explicar o que aconteceu. Só sei que voltei para a minha família e agora estamos juntos... 

Para sempre.



Autor
Adriano Siqueira

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