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quinta-feira, 4 de setembro de 2014
O show não pode parar - Por Adriano Siqueira
"A polícia encontrou o garoto na banheira. Morreu afogado. Não existem provas sobre ele ter usado drogas, apenas a música da cantora Lisa Mayro, que estava no computador, tocava sem parar.
Estamos tentando resolver este mistério e ajudar na investigação das outras 50 pessoas que morreram afogadas em apenas 10 dias.
Temos apenas a música da cantora em comum. Todos eles tinham uma cópia em mp3 que pegaram pela internet.
A cantora está presa e em custódia até que tudo seja resolvido. Ainda não sabemos porque só os homens que ouviram a música estão mortos."
- Acordar com o rádio relógio, passando uma notícia dessas logo cedo, já indicava que o dia não ia ser muito bom.
Lisa era tudo que eu queria em uma mulher. Uma ótima pessoa e uma cantora. Ela deu uma tremenda força para a minha namorada Helena e colocou ela pra cantar no coral do conjunto dela. Acho a maior injustiça o que estão fazendo com a cantora, mas tenho certeza, que tudo se resolve.
Minha namorada deve estar muito triste. Eu não a culpo. Afinal era a sua primeira aparição cantando no coral desta música. A estreia do CD era pra hoje, mas foi adiado, por causa da cópia em mp3 que colocaram na internet. Por isso eu ainda não a ouvi. A música parece que está proibida até resolverem este mistério.
Chegando na casa da Helena que era na beira da práia comecei a ter boas recordações.
Namorei com Helena muitas vezes sentado naquelas pedras mas hoje parece que nada daria certo, o seu pai estava na porta sentado no degrau da escada com as mão na cabeça.
- Temo pelo pior Jaime. Ele dizia com uma voz bem baixa.
Fiquei desesperado pensando no pior, pensando que ela poderia se matar por estar passando por está fase ruim.
- O que está acontecendo com a sua filha, senhor?
- Bom Jaime, ela vai embora. Está de mudança e vai morar com a mãe...
- Mas senhor? Isso é impossível! E a carreira dela como cantora? Meu namoro com ela? Meus Deus. Ela só tem 15 anos como pode deixa-la ir embora?
- Jaime. Eu sei o que devo fazer. Eu já deveria ter feito isso mais cedo, mas ela parecia ser normal só que depois que fez 15 anos ela ficou diferente. Por isso agora ela tem que ficar com a mãe. Ela vai embora para sempre. Alias... Ela já está partindo...
- Como Assim? ela teria que sair por esta porta... a não ser...
Sem terminar a frase, Jaime olhou para a praia e correu, conseguindo ver a sua namorada correndo ao encontro da sua mãe que estava nas pedras.
- Helennnaaaa!!!! Helenaaaaaa!!!
A mãe dela abraça Helena e o pai dela me segura.
- Helenaaaaa! Eu gritava como louco e me debatia com o pai dela.
- Deixe ela ir Jaime.
Eu assistia a tudo e nunca tinha visto nada igual em toda a sua vida, estava com lágrimas nos olhos quando vi que a sua mãe tinha uma cauda enorme. Um peixe... Uma sereia. Ela agarrou Helena e pularam juntas para o mar.
O Pai de Helena olhou para mim e disse:
- Jaime, este é nosso segredo... ela nunca mais vai voltar. Ela agora precisa de água para sobreviver. O canto dela, nesta idade, poderia matar muitos homens.
- Oh meus Deus. O senhor não sabe?
A música que ela gravou está na internet.
Por
Adriano Siqueira
muito lindo o conto. amei.
ResponderExcluirBlog Suicide Virgin
Muito bonito! Definitivamente muito bonito! Caprichou nessa,equilibrou bem mistério e romance com um toque expicativo no final! continue assim! Depois eu procuro a música
ResponderExcluirConto divertido, na mesma medida em que despretensioso. Aliás, a ausência de pretensão - a meu ver – é virtude que se esquiva em muuuitos escritos que abundam por aí. Adriano Siqueira, ao propor MAIS um exercício-de-imaginação do que uma literatura que reclama raízes & status, acerta a sorte. Leve nas tintas, faz-se digno do mais simpático interesse.
ResponderExcluirO breve do conto deixa espaço amplo para as entrelinhas ventilarem. Daí que se possa pensar as sereias – monstros que, como tais, chamam fascínio – num quadro de imagens que já parecem borradas. Digo assim porque lembro de algum comentário [que interpelou meu ser em esquina desmemorada] sobre as sereias que tentam Ulisses e sua tripulação. As tais, segundo consta [se vc tiver mais coragem que eu, consulte diretamente a versão de Homero para não ficar no ouvi-dizer], não eram exatamente prodígios de beleza: usavam seu canto para ludibriar, sugando para a morte os homens entorpecidos pelo ardil. O canto, cujas propriedades vão além do humano, cobra toda atenção, fazendo com que os homens deixem de VER a natureza do real [monstruoso], substituindo-o pelo conforto da ilusão.
No conto de Adriano, também há diálogo a respeito do que a aparência oculta. Não apenas no tocante à Helena [nota: Helena é o nome da mais bela donzela grega que, raptada por Páris, gera toda a novela da Guerra de Tróia – guerra esta da qual Ulisses regressa, vencedor, para encontrar monstros - como as sereias e ciclopes - na sua trajetória de volta ao lar. ((pergunto, caro autor, coincidência?!?!))]. Enfim, não apenas no tocante à Helena, cuja metade-peixe só se revela no desfecho. Há este mesmo jogo, por exemplo, no fato de que quem encontra-se sob suspeita, em função da melodia-mortífera, é a cantora principal, a estrela, Lisa Mayro [somos, como leitores, “sutilmente” encorajados a desconfiarmos da pobre-inocente]. O indício, que PARECE explicar, apenas nos desvia [assim como desvia as personagens] da verdade.
Outra coisa bacana: Adriano, ao contextualizar sua história num ambiente marcadamente pós-moderno [a música que vasa na internet é ilustração da tal despretensão-que-FUNCIONA], me lembra uma prática executada com maestria por Neil Gaiman. Os “Filhos de Anansi” chega mesmo a apresentar pontos de aproximação com este conto de Adriano. O estilo de Gaiman, de acordo com as opiniões de meu gosto, encontra mais sabor no livro “Deuses Americanos” - de novo: um cara que escreve Simples, mas com conteúdo pra deixar qualquer um zonzo. Enfim, mas nos dois títulos que mencionei, o que se destaca é o tratamento conferido às divindades antigas, que se vêem desempenhando sua sobrenaturais identidades em meio à normalidade [hã-hã] das vidas urbanas contemporâneas. A atualização dos mitos causa surpresas, na medida em que o inusitado visita NOSSO mundo. Isso mesmo: o mito, a lenda, a “crendice” viaja no tempo – deixa de ser peça obsoleta, ação do passado perdido, passado dos OUTROS –, re-encantando o espaço cotidiano. Ora, se Neil Gaiman faz isso, Adriano Siqueira, em sua construção, parece brincar com as letras guardando esta mesma intenção.
Em tempo: ainda sobre o escritor inglês... Há um conto de Gaiman em que o vemos explorar uma relação “curiosa” [para dizer o mínimo], indicando a sempre-cândida Branca de Neve num papel... humm.... “diferente”, ousado... Se nada te faz suspeitar do enigma desta Branca de Neve, vale cutucar a memória e te fazer pensar em certas características muito sólidas em relação a personagem. Ora, como o próprio nome situa, a moça é pálida-pálida. Depois de alguns ocorridos, o que acontece com a pobrezinha? Para numa sepultura improvisada no meio da floresta, onde espera – qual morta-viva – o beijo do príncipe que a desperta.
E aí, alguma conexão?
Se tiver curiosidade, não se arrependerá de ir ao encontro de Fumaça e Espelhos...
Luuuuuu!!!
ResponderExcluirentra em contato comigo no e-mail siqueira.adriano@gmail.com
brigado pelo comentario!!!!! :-)
abraços
adriano siqueira