Um homem é convidado por uma mulher chamada Raquel para conhecer os mistérios da noite. Ele conhecerá o mundo escondido dos vampiros.
Esta história é envolvida em muita sedução e suspense. Mostra em detalhes a transformação de um ser humano em vampiro.
Pacto Noturno
Por Adriano Siqueira
Saí do vagão do metrô e subi as
escadas rolantes, algumas pessoas olhavam para frente apressadas para sair da
estação. Olhavam o relógio, outras dobravam o jornal. A roleta estava próxima e
eu já a procurava. Raquel já deveria ter chegado. O que será que ela deve estar
aprontando desta vez? Comecei a lembrar do último encontro. Ela estava vestida de preto e
queria tirar fotos em um cemitério conhecido. Ficamos a tarde toda tirando
fotos. Algumas ela até colocou em sua página pessoal na internet.
Conheci Raquel há pouco tempo.
Por e-mail e depois de muito tempo, pessoalmente.
Mostrava-se completamente
impressionada com este mundo sobre histórias de vampiros. A sua fascinação ia
mais além quando me falava que era uma vampira. Que era um dos seres noturnos
que vagava pelo mundo.
Impossível, eu achava. Estes seres não existem. São histórias que adoro
ler. Existe muito de erótico e sedutor neles
e esta fascinação leva a muitos para este tipo de leitura.
Mas Raquel era ansiosa. Adorava
saber mais sobre eles e ler as novidades. O primeiro encontro foi completamente
dedicado ao sobrenatural. Depois do cemitério,
sentamos em uma praça e procuramos mais sobre estes seres. Ela sabia que alguns
moravam por ali e até ficamos à noite para ver se algum saía daquela praça
escondido. Por sorte, é claro, não vimos ninguém.
Parei de pensar naquela noite por
alguns instantes e voltei a procurá-la na estação, ela ainda não havia chegado.
Já passavam 15 minutos de atraso. Isso me
deixou mais preocupado. Ela realmente iria aprontar mais alguma. Fico
impaciente e começo a andar pela estação. Até
que finalmente a vejo chegar. Não era
difícil reconhecê-la. Era alta e seus
cabelos negros encaracolados. As roupas sempre leves acentuando o corpo que era
magro e com a pele branca. Desta vez ela veio com um vestido vermelho e não
estava sozinha. Tinha mais alguém com ela... Uma mulher. Eu sabia que iria ser
mais uma noite diferente, afinal. Porque ela
trazia uma mulher. E ela nem avisou que iria trazer mais uma pessoa.
Fui ao seu encontro, ela me viu,
nos beijamos e depois de alguns minutos parados dentro da estação, ela me disse que chegou atrasada
por ter ido à casa da sua amiga e achou que ela iria adorar o passeio. Logo em
seguida ela me apresentou. Seu nome era Jasmine. Um nome curioso já que hoje
era raro dar nomes de flores para mulheres. Isso era coisa de livros de contos
de fadas. Jasmine tinha uma beleza natural, ela usava maquiagem bem leve, o
batom era da cor da pele e seus cabelos bem mais lisos do que da Raquel. Estava
com uma saia preta e longa. A sua pele era branca e seus olhos castanhos. Ela
era mais baixa que a Raquel. Tinha praticamente o meu tamanho e sorria
educadamente. – Espero não estar incomodando. Foi idéia da Raquel. – ela dizia.
Eu não disse nada, apenas sorri. A culpa não foi dela mesmo, e nem sabia se eu deveria ter o direito de estar
culpando alguém. Talvez só a mim mesmo por confiar demais na Raquel. Mas agora tinha me vindo à mente algo
que ela disse antes de sair a primeira vez
comigo e que agora batia como um sino na minha cabeça.... – Sou imprevisível. –
Nunca me verá fazendo algo parecido ao dia anterior. – Eu deveria ter escutado
mais. Ou esperar algo assim depois do último encontro. Porém, eu gostava dela e
queria conhecê-la mais. Fico imaginado o preço deste conhecimento.
Fomos para uma casa noturna. No
caminho tentei conhecer mais a Jasmine, mas a Raquel geralmente me cortava e
respondia as perguntas que eu fazia para a sua amiga. Ela realmente não queria
maiores detalhes sobre a sua amiga ou queria protegê-la de mim, ou o contrário. Mas uma coisa era certa. Ela não queria
que eu tivesse contato com ela. Não naquele momento. Quando chegamos na fila
para entrar, ela se virou e me deu um beijo.
Um longo beijo. Fiquei surpreso com a intensidade dele. Parecia não me ver há décadas. Por vezes imaginei aquele momento
chegando. Eu estava de olhos fechados e eu nunca fecho os olhos. Por que os fechei? Será que eu queria me sentir
mais íntimo, imaginar que estou sozinho com
ela e não numa fila com a amiga dela? Mas
não importava. Eu a estava beijando de olhos fechados. Senti as mãos dela em
meu rosto. Isso também era uma novidade agradável, Não sei se fui eu que disse para ela que adorava as mãos no
rosto ou se ela fez isso sem eu dizer. Mas estava gostando. Até que a amiga
dela começou a falar que a fila estava andando e meu mundo se perdeu. Naquele momento o beijo se rompeu e eu senti os
seus lábios se separando dos meus bem lentamente. Quase
os puxei de volta. Como eu os queria de volta. Beijar era um vício mesmo.
Entramos na casa noturna.
Estávamos com sorte. Ainda tinha cadeiras vazias e poucas pessoas no caixa para
comprar bebidas. Enquanto elas procuravam um lugar para sentar, eu fui até o
caixa. Comprei umas fichas para trocar por bebidas e voltei logo para elas. Foi
quando eu tive a segunda surpresa. Elas estavam se beijando. Eu parei de andar
rápido. Aliás, parei de andar mesmo. Fiquei
olhando de longe elas se beijando sentadas. Era um beijo de paixão. De desejo.
Fiquei pensando se elas realmente queriam a minha presença. Talvez eu fosse só um acompanhante. Já vi acontecer. Muitos
vêm com uma pessoa e acabam indo com outra para casa. Hoje o mundo era assim. Cheio de surpresas. Até que Raquel parou de beijar a Jasmine e me
chamou para a mesa.
Eu fui... bem devagar, garanto.
Estava procurando palavras. E eu sabia que não era bem eu que deveria
dizer algo, mas estava procurando palavras
assim mesmo. Eu é que não queria ficar calado. Nem que fosse para mostrar bom
humor. Eu estava intrigado e curioso com o que ia acontecer o resto da noite.
Elas olharam para mim e eu fiquei
segurando as fichas que tinha comprado no caixa. Raquel olhou para mim e para
as fichas... Ela vai dizer algo... Eu estava prestando atenção completa a elas.
Esperando alguma palavra, qualquer uma. A
Raquel olhou para mim e disse: – Dois
refrigerantes.
Fiquei olhando mais alguns
segundos. Ela riu e mostrou dois dedos para mim e disse novamente, bem devagar: – Dois refrigerantes gelados.
Não acredito que ela não ia dizer
nada. Olhei o bar, fui até o barman e pedi
do mesmo jeito que ela fez. Mostrando os dedos: –
Dois refrigerantes.
Voltei à
mesa. Desta vez a Raquel estava sozinha. Eu ia perguntar onde a Jasmine estava,
mas ela me silenciou colocando de leve um dedo nos meus lábios. E logo em
seguida me beijou. Aquele beijo que havia recebido minutos atrás na fila.
Intenso... apaixonante, mas desta vez com uma diferença. Um leve gosto de
ferrugem... Eu já havia sentindo aquele gosto antes. Quando criança... quando
cortei o dedo e coloquei na boca. Lembrei do gosto. Afastei-a e eu vi a sua
boca mais vermelha. Mais brilhante. Ela estava com sangue na boca. Levantei da
cadeira e me afastei. Ela sorriu e tomou o refrigerante: – Venha. – ela dizia
calmamente. – Não vai doer. – ela sorria como se fosse normal. Havia muitas
perguntas na minha cabeça. O sangue era dela? Era da Jasmine? Porque queria que
eu soubesse? No que eu estava me metendo?
Raquel, vendo-me
sem ação, pegou na minha mão. Ficou tocando meus dedos vagarosamente, levantou-se e me levou para a pista de dança. A
pista ainda não estava muito cheia. Vi claramente Jasmine dançando no centro da
pista. Ela não estava sozinha. Tinha um rapaz com ela. Eu não consegui ver o
rosto dele. Raquel estava me abraçando e pedia a minha atenção. Deu-me outro
beijo e ficamos ali, dançando e se beijando. Novamente eu fechei os olhos. Hoje
estava sendo uma noite muito diferente, nunca beijei ninguém de olhos fechados.
O que estava acontecendo comigo? Mas deixei as perguntas de lado. O beijo dela
era muito bom. Eu estava abraçado com ela e podia jurar que alguém estava
respirando bem perto do meu ouvido. Abri os
olhos e interrompi o beijo por alguns segundos para ver quem estava ao meu
lado. Não havia ninguém. A pista estava vazia. Tão rápido. Não era possível.
Tudo bem que não havia muita gente naquela hora, mas eu podia jurar que passava
de 20 pessoas. E simplesmente sumiram. Raquel não estava surpresa. Estava
olhando para mim e tentando me beijar novamente. Eu recusei... Fiquei
preocupado com a amiga dela. Que havia sumido junto com o pessoal. Ela não
conhecia o cara que estava com ela. Falei para a Raquel que eu iria procurá-la,
mas ela não entendeu muito. Eu disse para ela ficar ali enquanto eu a
procurava. Ela não ficou. Raquel voltou para a mesa. Não estava de bom humor.
Foi a primeira vez que a vi desta maneira. Fui à
procura da Jasmine. Olhei em todos os cantos
possíveis. Até que eu fui procurá-la no banheiro. Olhei para o chão e encontrei
o cara que estava com ela. A cara dele enfiada na privada. Talvez estivesse
passando mal. Eu toquei no ombro dele e ele caiu.... Eu vi o seu rosto e de
repente meu coração acelerou muito.
Seus olhos estavam bem abertos e
o seu pescoço tinha um corte de, pelo menos, uns quinze centímetros. A camisa
dele estava banhada em sangue.
Jasmine. Eu só pensava na
Jasmine. Será que ela também teve o mesmo fim? Onde ela estaria?
Corri pela casa noturna. Procurei
um segurança. Ele estava de mau humor, mas foi comigo até o banheiro. Mostrei
para ele onde o cara estava. O segurança entrou e eu fiquei esperando
preocupado. Afinal, ainda não sabia onde
Jasmine estaria. Quando elaborava um plano para tirar as meninas de lá, fui
agarrado e jogado na parede. Era o segurança. Que gritava coisas incompreensíveis.
E me deixou ali no chão e voltou para frente da casa.
Eu não entendi nada. Entrei no
banheiro novamente e o corpo do rapaz não estava mais ali.
Não havia nem sinal de sangue. –
Agora chega! – eu disse, e fui procurar Jasmine e a Raquel. Eu tinha que tirá-las dali.
Conforme me aproximei da mesa
onde estávamos, percebi que havia mais
alguém com elas. Mais surpresas. As coisas pareciam piorar conforme o tempo
passava. O que era uma diversão estava se transformando em um pesadelo.
Não acreditei no que vi. O rapaz
que encontrei no banheiro praticamente morto. Estava ali. Vivo e sorrindo.
Antes que eu tivesse fôlego para
falar, Raquel pega na minha mão e me puxa para sentar com ela. E ao primeiro
sinal de explodir de raiva, ela me beija com força. Desta vez ela cola os seus
lábios aos meus e só para por alguns
instantes para me perguntar se estou gostando daquela noite. Novamente, eu não tive tempo de responder. Raquel estava se
divertindo. Ela sabia de algo que eu não sabia e isso me deixava fora de órbita.
Estava louco por respostas. Eu tentei várias
vezes dizer que tinha algo errado, mas ela
só me beijava e me tocava, possuída. Aquele gosto de sangue veio a minha boca
novamente. Não liguei. Desta vez eu queria seu beijo até o fim. Minha paixão
por ela estava chegando no limite. Eu não queria fazer nada, apenas ficar ali aproveitando os seus toques.
Com os olhos fechados eu pensava. Era só eu e ela... escutei de novo a
respiração bem forte perto dos meus ouvidos. Não. Não era nada, eu queria ficar
com a Raquel. Era imaginação. Não vou interromper. Mas a respiração ficava mais
forte e senti a língua de alguém passar no meu ouvido e uma voz dizendo: –
Relaxe... Fique calmo.
Eu não queria abrir os olhos. Eu
queria me concentrar nos toques da Raquel. Mas os toques foram sumindo. Como se
ela se afastasse. Outros toques apareceram... eram mais fortes. As mãos
diferentes, mais pesadas e outras mais
leves. Abri os olhos e percebi que eu estava em cima da mesa. O rapaz sugava o
sangue do meu braço e a Jasmine estava no meu pescoço. A Raquel estava me
olhando bem a minha frente. Eu tentei gritar para ela, mas ela só fazia sinal
de silêncio. Levantei a mão em sua direção. Estava perdendo os sentidos. Meu
corpo estava fraco... Até que finalmente... Tudo escureceu.
Parte 2
Escutei algumas vozes e aos
poucos abri os olhos e olhei a minha volta. Eles estavam comigo. Eu estava no
colo da Raquel. Ela conversava com os seus amigos até que percebeu que eu
estava acordado. Ela colocou a mão nos meus cabelos e ficou alisando. Deu um sorriso. Eu me acomodei e fiquei
sentando. Ela me abraçou. Olhei para a Jasmine que segurava um copo e sorria.
Eu poderia jurar que vi os dentes caninos bem salientes. Mas quando eu ia ter
certeza, Raquel virou
meu rosto e ficou olhando meus olhos. –
Agora está tudo bem. – ela dizia baixinho. – Sempre estaremos juntos.
Eternamente juntos.
Eu perguntei por que estava tão
claro e ela disse que a minha visão estava mais apurada e que não eram as luzes que acenderam, mas os meus olhos
estavam vendo além de qualquer humano. E,
realmente, ela tinha razão. Eu estava vendo
detalhes que não via antes. As rachaduras das paredes estavam mais nítidas.
Podia ver os insetos passando por baixo das mesas, escondidos nas beiradas do
chão. Eu olhei para os olhos dela e os vi brilharem mais. Ela me interrompeu
novamente para me dizer que ainda faltavam
mais alguns detalhes. Eu não entendi direito. Até que ela chamou a Jasmine, que veio olhando para os meus olhos. Percebi que ela mordia a beirada do seu lábio
inferior. Algumas gotas de sangue apareceram. Ela aproximou-se e eu recuei como
podia. Fui agarrado por trás. Novamente, aquele rapaz me segurava, agora pelos
braços. Eu perguntei o que acontecia. Mas a Raquel sorriu
e disse:
– Não aprecia os lábios da
Jasmine? Talvez um homem seja a sua preferência.
Ela puxa meus cabeços e levanta o
meu rosto. Meus sentidos estavam embaralhados naquele momento. Eu estava tonto.
Com náuseas. Eu não queria mais sangue. Tentava de toda a maneira me livrar
daquela situação, mas era impossível. Minhas forças tinham me abandonado.
Jasmine tocou o meu rosto com as suas mãos, ergueu a minha face e ficamos nos
olhando por um momento. Seus olhos brilhavam. Raquel alisava o cabelo de
Jasmine. Colocando-os para trás e mostrando o seu pescoço. Ela passava as mãos
e beijava levemente. Jasmine estava com a boca aberta e a língua estava
aparecendo delicadamente. Eu lambi meus lábios e a beijei. A sua língua entrou
na minha boca rapidamente e senti novamente o gosto do seu sangue. Fiquei
chupando sua língua por algum tempo e engoli
o sangue que saia do seu lábio inferior. Raquel começou a beijar os nossos
rostos. Quase senti os lábios dela se misturando com o nosso beijo. Senti a sua
língua passear sobre nossos lábios. Meus olhos se fecharam novamente. Desta vez
não era para imaginar que estávamos sozinhos, mas foi de pura luxúria, de êxtase,
de prazer. O rapaz que me agarrava soltou meus braços e direcionei as minhas
mãos para o cabelo delas. Eu não era mais o mesmo. Minha força tinha voltado.
Minhas pernas estavam firmes. Senti muita ansiedade e vontade de mais e mais
prazer. Jasmine parou de me beijar e tentou sair dali, mas Raquel a segurou pelo braço e disse:
– Fique aqui até o final. Eu
quero que você assista tudo desta vez.
– Assistir o que? – eu perguntava
curioso.
– A sua morte, meu querido. Quero que ela veja tudo... Ela
nunca gostou de ficar nestas horas. Ela sempre se afasta. Acha que isso a deixa
pura e se remorsos. Mas hoje será diferente. Quero que ela assista todos os
detalhes.
Eu não tive tempo de retrucar,
nem de perguntar o que iria acontecer. Se eu estava para morrer e se eles iriam
assistir, já não me importava aquele
assunto. Eu senti um formigamento por todo o corpo. A tontura possuiu meu corpo
e a fadiga me vencia.
Não tive outra escolha senão
procurar rapidamente um lugar para me sentar. O ar me faltava. Estava sufocado.
Debati-me como se estivesse afogado. Não tinha explicação. Eram momentos
horríveis. Segurava o meu pescoço tentando respirar, arranquei a minha camisa,
e tudo o que eu via era Jasmine chorando e a Raquel segurando o cabelo dela
para continuar olhando para mim. A escuridão veio rapidamente e não sentia mais
meu corpo.
Em meio à escuridão e sem nenhum
sinal de barulho, senti meu corpo flutuar. Estava parado como se estivesse caindo no fundo de um mar. Passei a mão
na minha frente, mas não conseguia vê-las. Vi pequenas luzes. Eu forcei a vista para ver melhor, mas eram muito
pequenas. As luzes aumentavam. Elas se separaram. Estavam
ao meu redor. Voando tão rápido que eu não conseguia acompanhá-las. Elas
estavam crescendo. Delas saíram braços e asas. Usavam amuletos. Eu tentei ler.
Todos tinham amuletos que começavam com a letra “S”.
Eles me empurram. Jogam-me de um lado para outro. Rasgavam o meu peito e
tentavam arrancar o meu coração com toda a força. Eu gritava, mas a voz não
saia. Eles tentaram de tudo para arrancar, mas não conseguiram. Eles me chutam
e me batem, falam entre eles e logo eles voam para longe. Tento chorar de dor,
mas as lágrimas não vêm. Meu coração, praticamente amassado por eles, me deixa
indefeso e sem esperança. Tento respirar, mas não tenho sucesso. Eu pego meu
coração, o tateio. Fico chacoalhando para ver se volta a bater novamente, mas
novamente não obtenho sucesso. Como última
esperança, enrolo usando as veias que o prendia e coloco dentro do meu peito.
Pressiono o meu peito e fico parado, esperando o meu fim. Foi aí que ouvi meu
nome.
– Roger.
Eu já tinha praticamente
esquecido o meu nome. Depois daquela noite eu nem sabia como me chamar mais.
A voz era da Raquel. Ela deveria
estar preocupada. Nunca me chamava pelo nome. Eu abri os olhos... Lentamente.
Estava ainda na casa noturna. Deitado em um sofá. Ela passava a mão no meu
rosto. Jasmine estava sentada bem perto da minha perna. Estava com a cabeça
baixa, com as mãos no rosto. Raquel sorria. Antes que eu perguntasse o que
aconteceu ela me perguntou.
– Como foi a luta com os anjos?
– Eram anjos? Se forem, eu não
gostaria de conhecer um demônio.
– Eles tentaram salvá-lo. Não
conseguiram. Agora você faz parte de nós.
– Esses anjos usavam amuletos com
a letra “S”!
Jasmine me olhou por um momento e
depois olhou para Raquel e disse, gritando:
– Sanni, Sansanni e Semangelaf!
– Tem certeza? Jasmine.
– Sim. Os anjos caçadores. Os
mesmos que aprisionaram Lilith.
Eu me levantei e fiquei mexendo o
meu corpo para ver se estava tudo bem. Toquei em meu peito, mas meu coração
ainda não batia. Tentei cheirar minhas mãos, mas por mais que eu enchesse os
pulmões de ar eu não conseguia sentir o ar entrando. Tudo estava congelado
dentro de mim.
Eu não sentia frio e nem a minha
pele se arrepiava. Passei a mão no meu braço e era como se eu estivesse coberto
com algum tecido. Eu havia perdido o tato. Estava tão preocupado com o meu
estado que não dei muita atenção à conversa delas. Até que elas perceberam que
eu estava precisando de ajuda. Raquel me pegou pelo braço e me ajudou a sentar
novamente.
– Não se preocupe... Logo você vai se acostumar. Tome isso.
Ela mordeu a ponta do dedo e
passou na minha boca.
Senti por alguns instantes vários
sentidos voltarem de uma vez. Paladar,
olfato, tato. Fiquei eufórico por alguns instantes e perguntei:
– Apenas uma gota de sangue faz
tudo isso?
– Sim, Roger. O sangue não é
apenas um alimento. É uma fonte para sentir o que os humanos sentem.
– Incrível. Mas... E o sexo?
– A pergunta veio mais rápida do
que imaginei.
Jasmine interrompe.
– Vocês não têm noção do que
aconteceu? Roger foi atacado pelos mesmos anjos que a Lilith. Será que não
percebem?
– O que é mais importante que o
sexo? – pergunta Roger.
– Significa que você é tão
poderoso quanto ela. E que você deve ser o mestre que voltou para reinar.
– Mestre? Eu não entendo.
– Aqueles anjos nunca apareceram
para nós. Nas lendas, eles apenas exterminavam os primeiros vampiros. Você pode ser um filho legítimo
da Lilith. O nosso guia, o nosso mestre que veio para liderar e proteger os
vampiros.
– Olha. Isso me parece um absurdo.
Eu nem sei muito sobre vampiros e...
Quando levantei as mãos todas às
lâmpadas da casa noturna estouraram. Nos meus dedos existiam raios elétricos.
Eu apontei para uma cadeira e ela explodiu como se um raio a tivesse atingido.
Jasmine apontou para mim e disse:
– Ele é o mestre. Eu disse. Ele
veio para nos ajudar. Ele é o líder que tanto procurávamos.
Raquel veio até mim e olhou para
os meus olhos.
– Sim, Mestre. Eu irei
protegê-lo. Serei a sua guerreira. Serei a sua mão direita. Sua gladiadora, a
sua mais poderosa arma e o mais desejado amor. Serei sua como e quando desejar.
Eu a abracei e disse:
– Eu nunca ouvi essas palavras de
mulher alguma e nunca achei que um dia iria ouvir algo assim. Para mim, esse
tipo de mulher nunca existiu.
– Acredite, meu mestre. Eu serei
esta mulher.
Uma explosão nos pegou de surpresa. Fomos jogados nas paredes
do local. Quando a poeira abaixa, vejo alguns homens bem na minha frente. Um
deles agarra meu pescoço e me joga novamente até bater em uma parede. Eu olhava
em volta e via que eu estava só. Todos haviam desmaiado. Foi quando ouvi o que
parecia ser o líder dizer:
– Então você é a reencarnação do
Mestre dos vampiros? – ele ria sem parar e os outros que estavam com ele, uns
três homens também riam.
– Se sou o mestre de todos os
vampiros isso eu realmente não sei, mas posso destruir facilmente todos vocês.
– é claro que eu estava blefando. Sabia muito pouco dos meus novos poderes e
eles tinham experiências de milhares de
anos.
Dois deles me seguram e me levam
para fora. Jogam-me na rua como se eu não fosse nada.
O líder levanta um carro e joga
em minha direção. Fecho os olhos e tento me
proteger com as mãos quando vejo que o carro parou em pleno ar. Levanto-me e deixo todos impressionados. Mas o
líder não queria perder tempo. E pronunciou:
– Ele aprendeu seus poderes muito
rapidamente. Destruam-no!
Os dois vampiros arrancaram um
poste e os fios explodiram com a alta
tensão. Passaram os fios elétricos sobre meu corpo,
mas isso só me deixava mais forte. Eu os tocava e eles sentiam a eletricidade
do meu corpo. Os dois queimaram em minhas mãos.
Um dos vampiros que estava com
eles voou para longe e enquanto o líder o chamava de covarde eu o agarrei pelo
pescoço. Mas a energia que ele tinha era forte e me jogou novamente para longe.
De suas mãos saiam raios. Eu corri o máximo
que pude. Senti cada rajada em minhas
costas. Sentia o cheio de queimado. Sabia
que não iria aguentar por muito tempo, então resolvi atacar com todas as forças que eu
tinha. Eu o agarrei e segurei o máximo que pude. Seu corpo me queimava, mas logo senti que ele também estava
enfraquecendo e gritava:
– Não! Eu sou mais forte! Eu tenho mais experiência.
Mesmo assim ele fraquejava até
que ele derreteu em meus braços.
Corri para dentro da casa noturna
e carreguei a Raquel e a Jasmine para fora.
Logo que elas se recuperaram, me chamaram de Mestre e que agora o mundo tem um novo
vampiro, um líder que irá levá-los para continuar o nosso legado.
– Qual é a nossa próxima missão, meu senhor? – dizia a Raquel, sorridente.
–Bem! Vamos nos abrigar, pois o
Sol já mostra os seus primeiros raios! E... Quando chegar o momento... Uma
adorável noite virá... E nossos irmãos conhecerão a nossa força, a nossa
natureza e juntos...
– Seremos imortais!
escrito por Adriano Siqueira
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