A Carta -
Por Adriano Siqueira
Por Adriano Siqueira
Sandra não gosta de viajar. Mas Transilvânia é um convite que ninguém recusaria.
Normalmente ela recebe convites para decoração através dos seus e-mails, não era esse o caso. A carta havia sido escrita a mão. Coisa muito rara hoje em dia, ainda mais quando as passagens estão no envelope. Seu trabalho era mesmo reconhecido no Brasil, mas no exterior? Pensar em como seu currículo seria enriquecido se decorasse uma casa na Transilvânia, a deixava muito eufórica - não importava que a carta dissesse que só poderiam atender à noite. Quem se importa?
Depois de mais de 6 horas de voo, um carro já a esperava! O motorista não falava muito bem português, arrastando muito para o espanhol! Dizia algo sobre o dono da casa já aguardar a presença de Sandra...
O motorista pára perto de um morro e aponta para uma colina logo no final da cidade.
— É lá, senhorita. Devemos continuar o percurso a cavalo. - A charrete esta nos aguardando.
No caminho, o homem olhava para Sandra... Como se procurasse algo... E encontrou. As mãos do então motorista, que mais parecia um guarda-costas, pegaram seu pescoço e ele abriu a boca, revelando os dentes caninos para mordê-la... Sandra pula da charrete e cai ribanceira abaixo, correndo pela estrada quando um homem aparece.
— Esse lugar é perigoso para uma mulher andar sozinha.
— Quem é você e como fala a minha língua?
— Seus trajes a denunciaram... Meu nome é Thomas. Você está pálida.
— É meu charme. Acho que um vampiro queria me morder.
— Não precisa ser um vampiro para querer te morder. - Disse Thomas chamando seu cavalo.
— Venha comigo. Eles atacam à noite... Venha para minha morada. - Thomas deu as mãos para ela subir. Uma armadilha sem dúvida, mas até então, era isso ou ficar lá só esperando ser jantar de algum vampiro.
— Tudo bem. Espero que tenha um chá bem quente.
— Aqui a bebida mais conhecida é o rum. As pessoas adoram álcool. Aqui é muito frio.
Sandra coloca os braços em volta do estranho e ele galopa velozmente para o castelo que estava perto.
— Você mora aqui?
— Sim... É a única moradia por perto. Venha... Vou mostrar seu quarto. Não se preocupe... É natural que tenha medo. Afinal aqui é o lar dos vampiros, não é?
Sandra sorri e acrescenta:
— Sim, é verdade. As lendas aqui são terríveis.
— Acredite em todas. A propósito, fui eu quem a chamou. Mas não enviei ninguém para apanhá-la, pois não sabia a que horas chegaria.
— Entendo perfeitamente – disse ela, olhando com desaprovação de tão clara era mentira que Thomas disse, pois ele havia comprado as passagens e com certeza saberia que horas ela iria chegar.
— Olhe ao seu redor, Sandra... Veja quanto trabalho terá.
— A começar pelas suas roupas de séculos passados. - Ela fecha a porta na cara de Thomas e ele sorri... E grita:
— O jantar será às nove horas.
— Jantar as nove horas? - Sandra vai até o guarda-roupa e olha com desaprovação, embora as roupas foram as coisas mais novas que ela encontrou lá. Parece que seu anfitrião sabia exatamente do que Sandra gostava.
Ela veste um vestido preto com alguns desenhos dourados envolvendo todo o vestido, colocando um pequeno lenço vermelho ao redor de seu pescoço, solta os cabelos e coloca uma sombra não muito visível, mas o suficiente para chamar a atenção. Embora estivesse frio, o castelo não tinha muita corrente de ar... Mas os barulhos de ratos e gotas pingando deixavam o ambiente inquieto e inseguro.
Sandra sai do quarto e anda pelos corredores do castelo até chegar na escada que dá para a sala de jantar. Uma mesa enorme servida apenas por dois garçons. Com variações de comida local e algumas coisas bem típicas brasileiras, como frutas etc.
— Demorei muito para encontrar as coisas da sua terra, mas quero que se sinta em casa.
— Nunca vou me sentir em casa com seus ratos fazendo festa pelo castelo...
— Pois saiba que esses "ratos" comem baratas e aranhas e tenho certeza não encontrou nenhum na sua cama.
— Não sei. Nada ainda me fez ter vontade de ir pra cama. - Sandra estava atacando a jovialidade de Thomas. Mas ele também sabia jogar.
— Acredito que os camponeses daqui tenham te chamado mais a atenção.
— Talvez, Thomas. Gosto de gente que trabalha e batalha pelas suas coisas.
— É claro... Andar pela floresta sozinha a deixou humilde. Pois vou dizer uma coisa que não sabe. Se você for agora para lá, para a vila, todos vão querer pendurá-la em uma árvore. Sabe, Sandra, as pessoas acham que este lugar é amaldiçoado.
As luzes das velas estavam ficando mais fracas, até que um relâmpago ilumina Thomas por completo. Rindo com os dentes salientes... Sandra leva um susto e fica bem grudada à cadeira. Mas as luzes voltam e ele estava absolutamente normal.
— O que foi, querida Sandra? Viu um fantasma?
Completamente pálida e suando, Sandra balança a cabeça negando ter visto algo. Ela tinha que sair de lá, e rápido.
— Eu preciso ir para o quarto, Thomas. Não estou me sentindo bem.
— Mas é claro, minha querida, a viagem era mesmo cansativa... Merece um descanso. Depois irei visitá-la em seus aposentos.
— Tudo bem, Thomas.
Ela ficou na cama, pensando em uma maneira de escapar dali. Mas nada tinha em mente.
Por mais que lutasse, Sandra estava cansada e adormeceu. No seu sonho, muitas imagens apareceram, era como se ela estivesse vivendo o sonho de outra mulher. As roupas diferentes. Épocas distantes. Banquetes de sangue e sempre que ela olhava para o lado, Thomas aparecia.
Enquanto Sandra tinha os mais diversos sonhos, uma névoa entra vagarosamente pela porta e, aos poucos, vai se transformando num corpo de homem. Era Thomas. Sentado na cama ele, passa as mãos no rosto de Sandra e sente o calor de sua pele...
— Não posso... Maldita é a fome e o desejo de amar...
Sandra acorda e olha para Thomas. Levando as mãos dele para o rosto dela. Ele a beija e seu beijo fica cada vez mais ardente... Mais desejos invadem aquele quarto. As mãos de Sandra tentam encontrar a estaca embaixo da cama, mas para sua surpresa, não encontram... Havia um rato brincando com ela, levando-a para mais longe de Sandra.
— Eu quero você, Sandra.
— Oh, eu também te quero, Thomas.
Ela pulou para o outro lado da cama para encontrar a estaca, mas foi em vão, o rato estava brincando com ela... Até que a estaca rola para a o lado esquerdo da cama, quase deixando Thomas ver. Ela troca de posição com o homem para deixar só ela vendo.
— Preciso do seu pescoço, Sandra.
— Claro Thomas. - Ela salta para fora da cama e senta-se perto da estaca...
— Porque saiu da cama? - Dizia Thomas atônito.
— É para não sujar a cama. Afinal, se me morder, vou ter que cuidar do castelo.
Thomas ria insanamente:
— É verdade. Agora venha.
Sandra com a estaca na mão, escondida por trás de seu corpo, chega perto de Thomas.
— Feche os olhos, Thomas. As nossas vidas jamais serão as mesmas.
Ele fecha os olhos e ela enfia com força a estaca no seu peito, fazendo Thomas instintivamente agarrar Sandra e mordê-la com a estaca enfiada e em seguida seu corpo se transforma em pó.
Depois de horas, ela acordou. Sandra só queria sair daquele lugar. Arrumou as suas malas e saiu do quarto. Antes de partir. Sua curiosidade foi maior. Ela tinha que conhecer o quarto do Thomas. Ela abriu a porta e viu que o quarto parecia ser de um príncipe. Ele tinha bom gosto. A decoração do quarto dele era um exemplo em decoração. Muito bem planejado. A não ser por aquele quadro velho. Não combinava com o quarto. O quadro mostrava Thomas com uma mulher. Uma mulher muito parecida com a Sandra. Ela sorriu e partiu...
Mais tarde, no avião, lendo o jornal. Sandra lê uma matéria sobre prováveis vampiros na região, quando o passageiro sentado ao lado dela pergunta:
— Você acredita em vampiros?
Sandra não responde. Ela apenas vai em direção ao passageiro e abre a sua boca mostrando os caninos pontiagudos e diz:
— É hora do jantar.
Por Adriano Siqueira
Não sei como tu tem tanta inspiração para escrever, eu não sei escrever nem um conto imagina escrever uma história, admiro pessoas assim como tu.
ResponderExcluirAbraços
Nossa, vampirico dos bons!! Domingo frio, neblina, e boa leitura, nada melhor... estou passeando pelos corredos sombrios destes contos!!!!
ResponderExcluirBoa Noite, duque da escuridao...
ResponderExcluiradorei teus contos...
os vampiros sao reamente admiraveis nao?
bom gostaria que vc falasse algo sobre a condessa ersebet bathory...
daria um belo conto..espero tua resposta ou quem sabe teu conto...agradecida...
muito interessante msm, amei. Só tem que manerar um pouco nos pontos de exclamação ;D
ResponderExcluirAdorei a leitura.
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