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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Uma Noite com um Vampiro - Conto de Vampiros estilo Terrir Humor/terror



Uma Noite com um Vampiro
Comédia Terrir.
Por Adriano Siqueira


— Cara! Você é quadradão mesmo.

Além de não conseguir nenhuma garota nesta espelunca, ainda tinha que aturar os bêbados que tiravam sarro do meu terno. Empurrei o bêbado para ele se tocar que não queria papo. Minha esposa era muito brava. Se chegasse em casa com cheiro de bebida, ia me encher durante toda a madrugada.

— Esta bem, cara! Não precisa empurrar. Pelo jeito você não tem sorte com as garotas daqui, mas não esquenta, você está vendo aquelas ali? As três garotas estão sozinhas. Aqueles corações estão cheios de luxúria só para nós.

Eu já estava de saída e, bravo, disse para o bêbado sair da minha frente. Ele levantou as mãos e me deixou sair do bar. Na volta para casa, no carro, pensava nos foras que tomava todas as noites – esperava não apanhar quando chegasse em casa – quando, de repente, ouvi uma buzina.

Eram as três garotas num carro bem ao lado do meu. Acelerei um pouco, mas elas acompanharam a velocidade do meu carro. Jogavam beijos e queriam que encostasse. Parece que minha sorte mudara. Paramos os carros na beira da estrada e elas vieram em minha direção. Cheias de amor, mal podia acreditar. Até sentir pontas de facas no peito e um cano de revólver no queixo.

— Seu carro é bom demais para ficar em suas mãos, seu nerdzinho estúpido.

Levaram meu carro. Mas que droga! Sentei-me na calçada com as mãos na cabeça. O que fazer? Minha mulher vai mesmo me matar. Como sou otário. Senti um vento frio e uma mão no meu ombro. Olhei rapidamente e vi… Era o bêbado, que também me seguira e ria muito.

— Relaxa, cara! Parece que as garotas gostaram mais do seu carro do que do seu terno. Não fica assim, não. Dei um susto nelas. Vamos lá! O seu carro está bem perto.

O que tinha a perder? Andei com ele por um tempo e, por milagre, meu carro estava mesmo encostado com as portas abertas. Corri, pensando que elas o abandonaram, mas a realidade era bem pior. As três garotas, mortas dentro dele. Muito sangue. Vomitei por um bom tempo. O bêbado colocou a mão em meu ombro e eu me afastei.

— Ah, cara! Eu recuperei seu carro. Está tudo certinho.

— Certinho? Você as matou! Você matou todas!

— Você é um mal-agradecido, mesmo! Está bem. Estou indo, cara. Valeu!

Ele sumiu pelos matos da beira da estrada. Agora eu estava ferrado mesmo. Nada podia ser pior. Então escuto um barulho de sirene.

— Levanta as mãos! No chão! Deitado!

Fui preso. Meu companheiro de cela era bem legal. Bateu minha cabeça nas grades da janela só duas vezes. Acho que quebrei o nariz. Suspeito de homicídio! Foi o que o delegado me disse. Três mulheres mortas, perfurações no pescoço. Falaram que eu estava brincando de vampiro. Eu contei que fora o bêbado, mas nem me deram bola.

O meu companheiro de cela se levanta e vem na minha direção. Acho que quer a janta e pelo olhar, eu era o prato da noite.

— Já falei para não olhar para mim.

Quando ia me dar um soco, seus olhos ficaram arregalados olhando para a janela. Era o vampiro.

— Cara, você está mesmo encrencado, sorte sua que eu ia passando. Posso ajudar. Você só precisa me convidar para entrar aí e acertar a fuça desse babaca que está te enchendo.

— Não! Você me colocou nesta encrenca. Você é um vampiro. Guarda! Guarda! O vampiro está aqui! Vem ver!

Irritado o grandalhão tenta me acertar mas eu consigo amortecer o soco com o travesseiro.

— Você não acha que os meninos vão ouvir você, acha? Ainda mais com o novo amigo de quarto. Quanto tempo vai levar pra ele furar o travesseiro e acertar a sua cara?

— Está bem! Então, entra logo!

Quando olhei para a janela ele já não estava mais lá. Em seguida escutei um barulho como se alguém tivesse quebrado um graveto e depois um estrondo, como se um armário tivesse caído. Meu companheiro de cela estava morto. O vampiro segurava o corpo caído e bebia o sangue direto do pescoço da vítima. O cheiro de sangue me fez vomitar de novo.

— Estava muito bom! Vamos sair daqui. Ah… Meu nome é Isac e o seu é…

— B-B-Beto.

— Certo B.B.Beto. Vamos sair sem barulho. Fique atrás de mim.

Ele arrancou a porta da cela e, segurando-a com as mãos, caminhou em direção à saída. Os policiais atiraram, mas a porta era de aço. Pressionou os policiais contra a parede e gritou para que eu saísse correndo sem olhar para trás. Corri para casa, mas sabia que a noite não havia acabado e precisava pensar em uma boa desculpa para não apanhar ainda mais… Eu não resisti à fadiga e tudo ficou escuro.

Acordei sentado na minha poltrona. Olhei ao redor da sala e não havia sinal de ninguém.

— Maria!

Pelo barulho que vinha da cozinha, ela parecia nervosa. Talvez procurasse o rolo de macarrão. O cheiro de vômito e bebida era motivo suficiente para ela concluir que eu passara a noite na farra. Foi quando ouvi aquela voz que me gelou.

— B.B.Beto?

— Isac? O que está fazendo aqui? Eu não o convidei pra entrar.

— Sei que não, mas segui o bom senso e pensei: “Meu amigo B.B.Beto vai se encrencar com a esposa. Então vou ajudá-lo e assim ele me perdoará por causa da noite horrorosa”.

A porta da geladeira se abriu e o braço da minha esposa apareceu.

— Ops!

— Maria? Essa não!

— Essa geladeira não fecha direito, B.B. Que porcaria!

— Você a matou? Mas que droga! Será que não fica um minuto sem matar alguém?

— Olha aí você de novo. Ela quase me matou, sabia? Ficou dizendo que eu era seu amigo e que levava você para o mau caminho, então pegou o rolo de macarrão e veio para cima de mim… E você sabe que isso dói. Então, dei um sopapo nela e pronto.

— Droga! Droga! Saia da minha casa! Sai! Sai!

— Está bem! Para de empurrar. Você quer um conselho? É melhor vir comigo. A polícia vai gostar dessa geladeira tanto quanto eu. Além disso, daqui a pouco é dia e isso não vai fazer bem para você.

— Espera aí! Como é que é?

— Bem é que… Achei que você era frágil para continuar essa vidinha moribunda que leva, então…

— Pode parar! Não fala nada! Cadê o espelho? Cadê? Oh, não! Cadê meu… Reflexo?

— Sabia que você ia gostar. Nem precisa agradecer. Você ficou até mais bonitão com esse terno.

— Saia da minha frente.

— Não fica assim, não. Olha, conheço uma casa noturna da hora. Lá tem um monte de garotas legais.

— Eu vou sozinho.

— B.B.! Não vai me deixar entrar no carro? Espera… Mas que cara mal-agradecido.




Por Adriano Siqueira

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