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sábado, 22 de dezembro de 2018

A Freira e o Vampiro - História de Adriano Siqueira




A Freira e o Vampiro
Por Adriano Siqueira



A igreja estava toda iluminada. Em cada ponta havia velas enormes que a deixava em destaque por toda a floresta e na cidade. Tinha uma boa vantagem da igreja ser construída em um penhasco. Ela se destacava e a sua iluminação traria mais povos de outros lugares. Esses estrangeiros viriam de muitos lugares para conhecer a linda cidade.

Livia era uma freira encantadora. Sempre atenciosa com os cidadãos e principalmente as crianças que a acompanhavam em muitos lugares da cidade.

Todos os sábados as crianças acompanhavam a freira para um passeio na floresta. Embora fosse uma floresta calma e tranquila. Livia nunca levava as crianças para muito longe. Os lugares que costumavam ir já havia cadeiras e mesas para fazerem uma verdadeira festa ao lado de muita comida e sucos.

Em um dos sábados a Livia estava com as crianças e percebeu a falta da Amanda, que sempre gostava de arriscar um passeio mais ousado. Mas a Livia já conhecia o seu jeito rebelde e ela já até sabia onde Amanda iria. No lago.

Era tarde da noite. Todos estavam se arrumando para irem para casa quando a Livia disse que voltaria logo, assim que fosse buscar Amanda. Ela tinha apenas 10 anos e gostava mesmo de ser uma pessoa com decisões fortes. Livia imaginava que os pais teriam que compreendê-la pois será uma garota que quer conhecer o mundo muito cedo.

Quando ela chegou o lago. Ouviu um grito. Livia preocupada gritou chamando seu nome.
Amanda disse que estava perto. Para Livia ir correndo.

Amanda estava no chão sentada olhando para baixo.

Livia se aproximou e vu que se tratava de um pequeno morcego atingido por uma flecha. Livia disse para que Amanda não tocasse em nada;

Afastou a Amanda e colocou luvas, segurou o morcego e arrancou a flecha, jogando ao mar.
Livia pegou alguns panos e uma pomada. Colocou o morcego em um lugar seguro dos abutres e deixou lá. Ela disse para a Amanda que o morcego logo estaria bem e seguro. Levou a Amanda para seus amigos e eles partiram para a sua casa.

Em um outro sábado. Livia estava com as crianças e ela queria mostrar o lado onde Amanda estava. Todos foram juntos com a Livia para o lago e lá passaram a tarde brincando.
Um garoto disse para a Livia que ouviu um rosnado.

Livia ficou atenta. A floresta era perigosa, mas nunca teve notícias sobre lobos naquela área. Mas ela não podia arriscar. Chamou todas as crianças para se arrumarem para partir. Foi quando algo assustador aconteceu.

Um lobo feroz e sedento estava bem a sua frente. Logo em seguida apareceram mais oito lobos. Todos olhavam atentos às crianças.
Livia se pôs a frente e tentou acalma-las.

Quando o primeiro lobo deu um passo a frente. Um homem apareceu. Ele olhou para os lobos. Seus olhos pareciam ter luz própria. Os lobos abaixaram a cabeça e correram em direção a floresta fechada. Longe da população.

Livia fica impressionada com o acontecido. O homem olha para ela e as crianças. Ela era um homem desconhecido por todos. Cabelos curtos e pretos, seu corpo media quase dois metros, era forte e seu corpo era pálido, bem diferente do povo da região que estava acostumados a sempre estarem com as peles bronzeadas. Ele tinha uma barba bem cuidada e o seu traje era da mais cara nobreza. O homem sorri e retira do bolso um pequena flecha que enfia em uma árvore. e ao passar por ela, ele desaparece.

As crianças passaram a circular a árvore a procura daquele homem, mas ele havia mesmo sumido. Algumas acharam que ela era um mágico e ficaram dizendo que ele não tirava os olhos da Livia. Ela ficou sem jeito. Ele era mesmo um homem encantador. Pegou a flecha da árvore e lembrou como se parecia com a flecha que arrancou do morcego e jogou no mar. Ficou pensando se ele havia machucado o morcego ou se... Bem as crianças eram prioridades. Ela tinha que levá-los para casa. Rezou para que os seus pais continuassem a deixar as crianças passearem com a Livia. Afinal os lobos não são vistos por lá já fazia um bom tempo.

Naquela noite Livia teve os mais estranhos sonhos. Aquele homem estava nele. Sonhou com eles passeando pela floresta de mãos dadas como um casal apaixonado. Eles se beijaram perto do lago e tiraram suas roupas e foram nadar. A água do lado era estranha. Era uma nevoa, não era água mas seus movimentos eram parecidos com os movimentos do lago. Ela sentia o seu corpo flutuando pela densa camada de névoa. Era uma sensação confortante e deliciosa. Se sentia no céu. O homem disse o nome dele. Era Ravi Balan. Ele era um homem que perdeu sua vida em busca de poderes, foi amaldiçoado e condenado a caminhar pelo mundo.

A freira toco em seu rosto. Ele era um homem triste mas quando olhava para ela o sorriso aparecia. Era um homem lindo. Suas mãos e a pele muito macia. Parecia ser muito frágil. Embora suas palavras eram ditas com força e vontade. Vontade de desejar, de querer, de dominar.

Em seu sonho livia sentia Ravi por completo. Os seus abraços e beijos eram poderosos e cheios de desejo. Os dois estavam nus e flutuando em um mar de névoa.

De repente Ravi olha para o céu, coloca as mãos a frente dos seus olhos para se proteger do Sol e em suas costas, grandes asas de morcego aparecem.  Ele grita e desaparece.

Livia acorda assustada. Corre para abrir as janelas e descobre que já era dia. Vai até a sua escrivaninha e vê a flecha que pegou no da anterior. Abre a gaveta e a esconde.

Ela veste seu hábito e caminha pela igreja até chegar no quarto onde os padres e freiras passam os seus dias de penitência. Ela tranca a porta e pega um chicote. Tira as suas roupas, se ajoelha e começa uma longa sessão de rezas e chibatadas em suas costas. Ela estava determinada a arrancar os pecados e os desejos do seu corpo e da sua mente. Seria um longo dia.

Quando chegou no sábado ela não quis sair com as crianças. O padre, preocupado, foi a sua procura. Livia estava sentada na praça da igreja. Estava muito abatida. Seus olhos tristes. Sem nenhum sorriso no rosto como costumavam ver. Ela sempre foi um exemplo de alegria e felicidade e agora parece que seu coração estava esmagado. O padre se sentou ao seu lado. Livia segurou a mão do padre e logo em seguida se ajoelhou diante dele e beijo a sua mão. Olhou para os seus olhos e disse com todas as forças que ela pode: "Padre, eu pequei!"

O padre passou a mão no rosto da Livia. Limpou suas lágrimas. Livia tinha apenas 23 anos. Era comum ter pensamentos pecaminosos. O mundo facilitava muito para que estes desejos a dominassem. Ele sabia que era difícil, mas também sabia que ela era forte e que conseguiria ser a pessoa que era antes. Ele acreditava em sua plena recuperação.

O padre a abraçou e antes que pudesse dizer algo eles escutam alguém bater na porta da igreja. A força das batidas eram ecoadas por toda a igreja. Eram batidas fortes e determinadas.

O padre e a Livia foram ver quem havia batido. E era ele. Livia tremia e seu coração acelerava ao ouvir o homem gritando que precisava ver a Freira Livia.

O padre o convidou para entrar. O homem sorri e caminha para dentro da igreja. Vai até a Livia, mas ela recua. Ravi persiste e caminha com mais determinação e segura os braços da freira e olhando para os seus olhos ela avisa. "Você corre perigo aqui."

Livia e o padre ficaram surpresos com as palavras de Ravi. Livia era uma boa pessoa. Adorada pelo povo. Ninguém iria lhe fazer mal nenhum.

Ela se defende dizendo ao padre que aquele homem os salvou de uma matilha de lobos e que deveríamos agradecer, mas Ravi interfere e comenta. "Você sabe que nos conhecemos bem mais do que isso Livia." E ele pega a mão da Livia e a beija, novamente olhando para os seus olhos complementa: "Somos eternamente ligados."

Livia solta as mãos do Ravi e vai até o padre e implora para que aquele homem deixe a igreja e siga o seu caminho.

O padre fica intrigado. O que havia naquele homem para que Livia o tratasse de uma forma como se tivesse medo dele. Como se ele fosse um homem muito perigoso. Em respeito aos temores da Livia o padre pede para que o homem deixe o local e os deixe em paz.

Ravi fica irritado. Começa a caminhar de um lado para o outro. Coloca as mãos na cabeça e anda preocupado. Ele então toma uma decisão e anuncia: "Sairei da sua igreja, mas ficarei na redondeza vigiando este local pois sei que ela está em grande perigo e que logo eles irão caça-la e exterminá-la."

Ravi se retira do local e os deixa pensando no que ele disse.

O padre pergunta se eles já se viram depois do que aconteceu na floresta e ela diz que está sonhando com ele todas as noites. E os sonhos são cheios de pecado e desejos insanos. Ela tem rezado muito para os sonhos terem fim. Mas tudo reaparece na noite seguinte. Ela tem medo de dormir agora. Fazia dois dias que ela não dormia com medo do sonho voltar.

O padre a avisa que ele pode ser um demônio astuto e voraz e que veio para acabar com a alegria e felicidade da cidade e dos cidadãos. Mas pede para que a Livia não desista. Que ela continue o seu passeio com as crianças. Elas precisam da sua atenção ou ficaram tristes também. E a tristeza se combate com a alegria, se combate fazendo boas coisas aos outros. É esse sentimento que deve expandir e crescer.

Livia sorri e concorda. As crianças não são culpadas por sua tristeza. Elas não devem pagar por isso.
E Livia sai com as crianças naquele sábado e ela conversa sobre as dificuldades da vida e que todas as fases são apenas fases que nunca duram para sempre. Amanda diz para Livia que quando crescer quer ser uma freira como ela. Livia diz que ser uma freira é estar disponível 24 horas para Deus. E que quando tiver 18 anos ela pode ser uma freira.

Tudo correu bem. Livia leva as crianças para casa e depois segue o seu caminho para a igreja.
Ao chegar Livia observa três homens falando com o padre. Ela se aproxima para conhecê-los e o padre a apresenta aos homens.

Um deles fala com ela sobre um homem que eles estão procurando e mostra a foto de Ravi. Diz que ele é perigoso e que já matou muitas pessoas. Diz também que é um ser demoníaco e que deve ser retirado de lá para que seja punido e sacrificado.

Livia olha para o padre. Ela sabe que o padre não diria nada e diz para o homem que não o viu e que se ele aparecesse ela avisaria.

Eles falaram que estariam em um hotel naquela semana. Pois estavam procurando a criatura e que não seria seguro sair de noite pois o assassino que eles procuravam atacava mais nas horas noturnas. Depois do aviso. Os três homens saem da igreja.

 Naquela noite Livia tinha ido dormir. Ravi agora era passado. Ela estava certa que ele não apareceria novamente para atormentá-la. Mas não foi isso que aconteceu.

No sonho da Livia os três homens lutaram com Ravi. E ele venceu todos. Depois pegou cada corpo e sugou seu sangue. Ravi estava sedento e se alimentou do sangue de todos os homens. Quando Ravi sentiu a presença de Livia. Ele olhou para ela. E sorriu.

Livia acordou assustada novamente e lavou o rosto por vários minutos. Os gritos dos homens ecoavam em sua mente. A insanidade estava tomando conta dela. Se ela contasse ao padre ela teria problemas. O padre poderia afastá-la do seu cargo na igreja e teria que ficar internada para se curar de sua loucura. Foi quando ouviu um barulho na janela.

Livia olhou atentamente. A janela estava tremendo. O barulho começou a aumentar e os vidros começaram a rachar até que se quebraram e logo em seguida os pedaços de vidros e madeiras começaram a cair no chão. A janela foi destruída com rapidez. Ela continuava a olhar e, uma sombra tomou a janela por completo e nela um morcego saiu das sombras e voou pelo quarto. Deu três voltas e pousou perto da janela. Aos poucos o morcego tomou a forma de um homem. Era Ravi. Sorrindo.
Ele olhou para Livia e disse que os homens que a visitaram nesta tarde já não existem mais. E que ele estava lá para levá-la para um lugar seguro e que ficaria com ele o resto de suas vidas.
Livia não aceitou a sua oferta e o repudiou. "Não vou com você! Meu lugar é aqui!"

Ravi ameaça a destruir toda a igreja se ela não fosse com ele. Livia pega a sua cruz e mostra para o ele. "Em nome de Deus! Vá embora!"

Ravi por um momento se protege da cruz. No entanto ele abaixa os braços e sorri. "Você está em dúvida com a sua fé! A cruz não pode te salvar mais!"

Ele faz um gesto com as mãos e a cruz é arrancada das mãos de Livia e lançada pela Janela.
Ravi olha para Livia e ela cai de joelhos chorando e clamando. "Deus! Me salve dessa insanidade! Me salve dessa loucura que me possui!"

A porta se abre e o padre com uma cruz e uma bíblia em suas mãos enfrenta o vampiro. "Volte para o seu mundo criatura bestial." "Eu ordeno que saia desta igreja!" Deus ordena que saia deste lugar para sempre!"

Ravi se afasta de Livia e se protege com os braços, Ele salta a janela e antes de cair se transforma em um morcego novamente. O padre abraça Livia e a leva para um quarto de hospedes e lá ela reza agradecendo a Deus por tê-la Salvo.

Na manhã seguinte o padre descobre que os três homens que o haviam procurado no dia anterior estavam mortos e sem nenhuma gota de sangue no corpo. O padre vai até o quarto onde Livia deveria estar, mas não a encontra. Preocupado, o padre entra em contato com todos os superiores e conta a sua história e pede para que eles o ajudem e como resposta os seus superiores enviariam uma mulher.

O padre já sabia quem eles enviariam. Começa a procurar a Livia pela cidade. Todos estavam preocupados. As crianças choravam e queriam que a Livia aparecesse. Alguns homens a procuraram na floresta ao redor da igreja, mas nada encontraram.

No final daquela tarde o padre recebe a visita de uma mulher. O seu nome era Késsia Montenegro e era uma pesquisadora e investigadora sobre casos estranhos que acontecem nas igrejas.  Ela era também a irmã dele. A irmã que sempre ia contra os métodos legais da igreja. Destruiu muitas criaturas usando métodos que a igreja jamais aprovaria.
Depois de uma longa conversa e averiguações pelo local. Késsia avisa seu irmão que o monstro era um Morto-vivo, um vrykolakas ou um strigoi e que todas as janelas deveriam estar fechadas, mesmo as mais altas e que nelas tenham réstia de alho. Não convidar ninguém estranho para entrar e que todos devem andar com cruzes e água benta.
O padre anota todas as solicitações e pergunta se ela conseguirá localizar a Livia.
Como reposta Késsia explica: "Você sempre foi o irmão certinho. Tudo tinha que ser construído de forma correta. Eu não sou assim Norman. Não aprecio chamá-lo de padre. Agora tem que seguir as minhas regras para ter a Lívia de volta. Esse monstro é perigoso. Se trata de um ser desprovido de paixão. Sua alma é sombria e a sua sede de sangue é eterna. Não acredito que ela ainda esteja viva. Não existe esperança quando alguém encontra tal criatura. Seus desejos por sangue estão acima de qualquer lei. Acima de qualquer um. Acima de você Norman. A criatura não vai querer saber de seguir os seus métodos corretos que você criou para essa igreja. Ele vai destruir e se alimentar de todos se não seguir minhas ordens."
Com isso o padre abaixa a cabeça e implora para encontrá-la e explica: "As crianças viram a Livia pegar uma flecha. Livia deve ter deixado no quarto dela."
Késsia vai com o padre para o quarto de Livia e eles acham a fecha guardada em uma das gavetas. Késsia coloca as suas luvas e coloca a flecha em uma sacola. Depois ela segura as mãos do padre e diz que fará o possível para achá-la, mas precisava de um lugar para analisar a flecha e assim poder encontrar pistas para localizá-los. O padre concorda e leva a Késsia para um lugar silencioso e isolado.

Livia abre os olhos e vê que estava deitada em um chão umido. Olha para cima e vê que estava em uma caverna fria e muito estreita. Apenas um pequeno raio de luz aparecia, mas era muito alto para tentar escalar e fugir. Ela ecuta um barulho e olha para ver o que era. Lobos. Eram lobos raivosos. Os olhos vermelhos mostravam que eles estavam vindo bem devagar em sua direção. Livia recuou até encostar na parede. Ela não tinha como escapar. Seria devorada. O primeiro lobo saltou para atacá-la e ela acordou.

Era um sonho. Livia acorda em uma cama macia. Rezava para que isso também não fosse um sonho. O quarto onde estava era pequeno. Cabia apenas poucos móveis. Um guarda-roupa, a cama e uma penteadeira.

Embora pequeno. o quarto era  aconchegante. a cor das paredes bem pintadas tinham a tonalidade de azul bem claro. Um candelabro acesso no teto. Deixava o quarto bem iluminado. Ela não sabia onde estava. Alguém bate na porta e pergunta se pode entrar. Ela fica calada pois reconhece que a voz é de Ravi.

Mesmo assim a porta se abre. Ravi enra segurando uma bandeja com algumas frutas e sucos.  Sorrindo ele coloca a bandeja na cama e senta ao lado de Livia e tenta e justificar.

"Sinto por ter te raptado. A igreja era um alvo fácil para os inimigos." "Tenho muitos" "Eles sabem que você é importante para mim."Farão de tudo para usá-la como isca."

Livia não diz nada. Apenas pega a bandeja e começa a comer. Enquanto isso Ravi continua a falar.
"Já fui alguém importante. Um guerreiro sanguinário. Mas com o passar dos anos eu queria mais poder e foi então que um mago de outras terras me ofereceu uma garrafa de sangue e avisou que nela tinha o sangue real. O sangue do primeiro homem da terra. E disse que se eu bebesse daquele sangue eu teria todos os conhecimentos dos homens que nasceram até hoje. Fui um tolo. Minha sede pelo poder e o medo de envelhecer me fizeram esquecer de ponderar e de pensar. Naquele instante eu só pensava em ter mais poderes e mais força para dominar meus inimigos. Eu bebi. Não um gole. Toda a garrafa. Minha vida estava tão deplorável que nem passou pela cabeça que o mago poderia estar blefando e que poderia haver apenas veneno. Mas o que aconteceu naquele instante foi aterrador. Muitas e muitas imagens se formaram em minha cabeça. Imagens de guerra, pessoas gritando e morrendo. Famílias me abraçando. Rostos de pessoas conhecidas e desconhecidas. Eu vi todas as catástrofes que a terra teve. Senti em minha mente cada toque de destruição e... morte!"

Livia estava comendo e ouvindo cada detalhe da conversa. Pensava que seria a próxima a morrer e que essa seria a sua última refeição, mas Ravi continuava a falar.

"Eu fugi. Corri para ver se aqueles pensamentos iriam parar de entrar em minha cabeça. Era muita informação. Eu iria ficar louco. Na corrida eu cai ribanceira abaixo. Fiquei rolando no chou por mais de 800 metros. Estava ferido. Minhas pernas estavam quebradas e tinha muitos ferimentos aberto. Eu tinha certeza que iria morrer."

Livia esperava e tentava arrumar uma maneira de sair de lá. Ela precisava fugir daquele homem insano. Mesmo assim continuou a ouvir o que Ravi dizia.

"Lembro de alguns lobos me arrastando para dentro da floresta. Não me lembro quanto tempo fiquei ali na mata fechada. Talvez horas, talvez dias. Quando se está para morrer tudo parece estar devagar e você só pensa no passado."

Ravi segura a mão de Livia.
"Eu sobrevivi. Minhas feridas e as pernas foram curadas de alguma maneira e com o passar do tempo notei que eu poderia correr mais rápido que os lobos e eu caçava para eles. Assim podíamos dividir a comida. Quando vi que estava em melhor condição eu pude sair da floresta."

"Tentei voltar para minha antiga moradia, mas não existia mais nada lá. As pessoas nem me conheciam mais. Tudo que eu tinha foi destruído e esquecido. Todos me olhavam com medo. Eu estava com as roupas destruídas e com uma barba muito grande. Eu precisava de lugar para me trocar e voltar a ter uma imagem mais civilizada. Eu fui em um bar e falei com o dono para trocar serviços por roupas e comida. Lipei o chão, lavei as louças, limpei a janela e o dono do bar me deu roupas e uma navalha para cortar a barba. Fui até o banheiro e depois que voltei, me alimentei. Comi um grande prato de comida, mas logo o meu sorriso de satisfação se tornou algo desesperador. A comida não descia pela garganta. Eu estava sufocando. Arrastei-me e joguei a comida fora. Eu estava com fome. Mas não era da comida. Lembrei que eu tomava o sangue dos animais que ajudava a caçar para os lobos. Era só isso que me alimentava. Sangue. O homem do bar tentou me ajudar, mas eu o afastei e fui embora. Quando andei pelas ruas mais bem arrumado uma mulher me perguntou se eu queria prazer. Eu só pensava em me alimentar. Me levou para um hotel. Ela sorria muito. Eu só a via como comida. E foi o que ela se tornou naquela noite. Tomei todo o seu sangue. Cada gota. E ela não foi a última vítima. Desde então eu passo as noites procurando alimento. O Sangue."

 Livia sorri e tenta acariciar o rosto de Ravi. Ele pega a sua mão e a beija dizendo:
"Você é uma mulher maravilhosa. Será minha pela eternidade. Juntos vamos ter o nosso espaço merecido neste mundo e vamos aproveitar cada dia, cada noite."

Ravi segura os ombros de Livia. E se prepara para mordê-la quando finalmente ela lhe diz:
"Eu quero ficar com você, mas não como você está. Quero continuar sendo a humana que sou. Sei que você é frágil quando o Sol está no alto. Posso proteger o seu sono até a chegada da noite. E assim você pode me proteger nas horas escuras."

Ravi pensa por uns instantes e responde:
"Eu não preciso realmente te transformar no que sou tão imediatamente. Podemos adiar sim. Ficaremos aqui por muito tempo. E aceito sua proposta."

Eles sorriem e se abraçam.
A caçadora késsia aparece e lança com a sua besta, a flecha encontrada no quarto da Lívia. Ravi foi agil, ele pegou o objeto no ar e olhou e sorriu para a caçadora. "Acha que não percebi a sua chegada caçadora? Eu sou muito poderoso e vou... Argh..."
Ravi sente muita dor na sua mão que estava segurando a flecha. Ele a joga longe, mas a sua mão havia pegado fogo. Começou a gritar. Késsia responde: "A flecha estava preparada para você. Eu passei água benta com alho. Certamente iria causar muita dor e eu contava com isso."
A caçadora foge do local e Ravi vai ao seu encalço. Quando ele passa pela porta uma rede feita de espinhos cai por cima dele. Os espinhos ferem todo o seu corpo e começa a soltar fumaça. Késsia sorri. "Os espinhos também estão com água benta e alho. Você vai morrer Ravi. Já matou muita gente."
Lívia segura os braços da Késsia e suplica: "Por favor! Não o mate! Ele também é filho de Deus."
Kessia olha para a Lívia e responde de maneira sarcástica: "Não me venha com sua conversa ingênua, puritana. Saia daqui, tem um cavalo a sua espera e ele a levará para a sua igreja. Esse vampiro vale muito e eu pretendo me aposentar depois dessa caçada. Vocês que trabalham na igreja são muito piedosos e por causa disso, criaturas como ele matam sem perdão."     

Ravi sofre em desespero. Levanta a sua mão pedindo ajuda para Lívia, mas ela é empurrada pela caçadora que pula na rede e usando uma estaca ataca e enfia diretamente no coração de Ravi.
Lívia senta no chão e começa a chorar. Eles tentam se tocar, mas Késsia chuta a mão de Ravi e explica: "Quantas famílias sofreram pelas mortes que causou vampiro? Quantos humanos perderam a vida por sua causa? Quantos ainda perderiam se ficasse vivo?"
Késsia olhou para a Lívia e conclui: "Você seria a próxima vítima dele. Você seria mais um brinquedo na mão deste vampiro. Agora volte para a sua igreja e conte para todos o que aconteceu. Quem sabe eles deixarão de ver essas criaturas com compaixão e comecem a fazer o que deve ser feito."

Ravi se debateu e gritou por algum tempo até que finamente, seu corpo foi queimado e destruído.

Késsia vê o que restou de Ravi e sorri. "Está feito. Finalmente o vampiro não vai mais matar ninguém." Ela se vira e vai para a saída daquela casa. Enquanto isso a Lívia olha para a poeira que restou do Ravi ela toca na poeira e por baixo dela havia um pouco do sangue do vampiro. Livia pega o sangue com as mãos e passa por seu rosto e bebe. Seu corpo começa a tremer. Ela entra em um estado de convulsão e cai no chão desmaiada.

Késsia fica a espera da Lívia do lado de fora junto com o outro cavalo que trouxe para levá-la; De repente os dois cavalos começam a pular desesperados. Késsia tenta acalmar os seus cavalos, mas é inútil. O cavalo onde ela estava montada, salta em desespero e faz com que a Késsia seja derrubada. Os cavalos fogem do local. Ela se pergunta o que aconteceu. Afinal acabara de destruir o vampiro. Késsia, ainda no chão olha para a porta da casa e vê a freira lívia. Coberta de sangue e com os olhos do próprio demônio.
Kessia fica em pânico. Os cavalos levaram as suas armas. A freira agora era uma vampira e estava faminta. Késsia era a unica fonte de alimentação para a freira. "Lívia! Não faça isso. Se você não sugar o sangue de ninguém ainda existirá uma cura. Não jogue todos os ensinamentos da igreja fora. Resista! Lute! Não deixe essa doença te exterminar!"
Mas já era tarde. Lívia segura o pescoço da Késsia e a levanta com facilidade. Ela sorri e responde.
"Quem disse que quero me curar? Essa doença vai mandar você para o inferno!"
Lívia mostra os seus caninos pontiagudos para Késsia e ela morde o seu pescoço. Suga todo o seu sangue e arranca a cabeça dela e depois joga para longe da casa.
Livia limpa a sua boca que estava coberta de sangue e se afasta sorrindo.

Depois de muito tempo quando as crianças estavam no lago brincando junto com uma nova freira chamada Helena. Elas contavam histórias sobre a sua antiga amiga a Freira Lívia. Quando a Amanda, que era a criança mais atenta que todas, viu a Freira Lívia escondida nas árvores. Ela foi ao seu encontro e se abraçaram. A Freira Lívia disse em voz baixa: "Eu estou bem. Só que agora faço parte de outro mundo. Mas sempre estarei aqui para protegê-la quando precisar. É só me chamar."
Lívia afasta a Amanda e se transforma em um morcego e vai em direção a mata fechada.
Amanda volta para feliz para contar para os seus amigos.

E a história é contada até hoje.

Escrito por

Adriano Siqueira

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