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segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Pararelas - por Maria Ferreira Dutra

 


Escultura 
MARIA FERREIRA DUTRA



ILUSTRAÇÃO
Adriano Siqueira

PARALELAS

POR MARIA FERREIRA DUTRA

INSTAGRAM @MARIAFSDUTRA


PARALELOS


Peguei um pedaço de argila, dividi em duas partes.

 Manipulei-a até formarem uma esfera. 

Na primeira, manipulei seres fantásticos, mas sabia que viveriam pouco naquele mundo. 

Na segunda esfera, coloquei símbolos  e fiz algumas entradas.

Deixei -as dias secando a sombra, não as pintei, pois meu mundo já não tinha mais cores. 

Depois de alguns dias, quando já estava bem secas, as guardei em uma caixa durante oito anos sem mexer para nada.

Uma noite fui acordada por um barulho estranho algo que eu não estava acostumada a ouvir, pois eu morava sozinha e nem gatos eu tinha.

Calçei o meu chinelo e fui até o outro quarto de onde vinha o barulho em pleno escuro. Acendi a luz e o barulho cessou.

Apaguei a luz e o barulho voltou. 

Abri a porta do armário vagarosamente e ouvi sussurros vindo lá de dentro.

 Fui procurar o que era e para a minha surpresa a minha caixinha se mexeu. Bem devagar, devagarinho,  fui abrindo a  tampa e uma luz muito brilhante  saiu lá de dentro clareando todo o quarto. 

Fiquei surpresa e com os olhos arregalados, pois a minha obra estava modificada, havia uma ponte entre as duas esferas.

Árvores, flores, rios... haviam nascido naquela esfera que não havia nada além de entradas e símbolos.

Em cada entrada havia seres morando, a populaçâo havia crescido. Eram os símbolos que eu havia feito, agora eram letras formando palavras e os seres aprenderam a se comunicar.

O primeiro mundo havia acabado mas, aqueles seres que se amavam não poderiam deixar de existir, e sim, queriam uma vida eterna. Por isso, com todo seu amor trabalharam dia e noite para construírem uma nova vida em outro mundo onde desejavam ser felizes eternamente.

Quando eu ia fechando a porta da caixa, ouço o choro de um bebé e a sua mãe olha para mim e nela vejo o meu próprio rosto. 

O eu em outra dimensão me entrega o bebê, eu o acaricio, o chamo de filho e o faço dormir.  Dou-lhe um beijo na testa e o devolvo para o eu no futuro que fazendo sinal de silêncio, abre em seguida mostrando uma placa onde esta escrito: "Te  aguarda no futuro . 

8  Junho de 2045."


Por : Maria Ferreira Dutra




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