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quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Conto de terror - O Banheiro


O Banheiro

Texto: Adriano Siqueira




Não me lembro perfeitamente como tudo começou. Acho que me deixei o meu sentimento tomar posse da minha razão. Ela era divertida e tudo começou assim, risos e sorrisos. 

Meu nome é Carlos Valesco e Laura W. Carim era o nome dela. eu brincava de colocar a ponta da lingua no céu da boca para dizer o seu nome e ela gostava e ria. Ela me beijava só de me ver tentando falar seu nome. Brincamos na primeira noite que nos conhecemos. 

Laura me trancou no banheiro. Ela tinha dois em seu apartamento e nem usava muito. Para mim parecia mais um deposito com tantos objetos empoeirados e panos velhos. Mas ela me trancou lá. Disse que eu iria entrar em pânico rápido pois achava que eu era fraco como muitos que sairam correndo da vida dela. 

Eu fiquei trancado e ela conversava comigo na sua cama. o banheiro era no seu quarto. ficamos falando sobre tudo a ate uma hora da manhã. Ela disse que eu estava me portando bem e que se continuasse assim ficariamos juntos mais vezes. 

Eu fiquei lá. no banheiro.tirei o meu terno e enrolei nos meus sapatos para usar como travesseiro. Ela me chamava as vezes para perguntar se eu estava bem e dormia novamente. 

Eu queria mostrar que estava pronto pra ela e que aguentaria suas brincadeiras. Dormir no banheiro não era um desafio tão grande. E era só aquela noite.

Eu cochilei bem. De manhã ouvi ela abrir a cortina da janela. 

Ela pegou a chave e abriu o banheiro. Ela estava sorridente. pegou em minha mão e me levou ate a sua cozinha. Me deu café. 

De repente bateram na porta e ela disse se eu poderia ficar no banheiro até a visita sair. eu disse tudo bem. Entrei no banheiro com lanches e sucos. 

Eu ouvi a conversa. A mulher era uma médica. falava de remédios e tratamentos que a Laura estava fazendo. Falaram de efeitos colaterais e psicológicos mas a Laura se mostrava um pouco anciosa dizendo pra médica que tinha que fazer muitas coisas e estava bem ocupada para conversar tanto. Eu percebi que a Laura estava querendo escapar da médica. Talvez por se preocupar comigo. Eu já tinha ficado no banheiro dela toda a noite. 

De tanto a Laura mostrar muita ansiedade em fazer suas coisas a médica acabou indo embora. 

Laura estava nervosa. jogou a louça na pia. Veio com os passos fortes para o quarto. falou mal da médica e reclamou dos preços dos remédios. Estava muito alterada. Ela disse que era a casa dela e que não tinham o direito de deixá-la com raiva dentro da sua própria casa. 

Eu falei com ela.Não queria que ficasse zangada. Ela só dizia que precisava sair, precisava dar uma volta sozinha. Eu disse que estava tudo bem e só queria que ela ficasse bem. Só queria que ela me devolvesse o celular pois ela pegou ontem e não vi mais. Porém ela disse que descarregou e que iria comprar um cabo para carregá-lo. Eu não queria fazer muitas perguntas. Laura estava muito impaciente e eu não sabia o que ela tinha. 

Laura saiu do apartamento e me deixou trancado no banheiro. Esperei muito. os lanches acabaram os sucos também. O banheiro não tinha janela. tinha dois metros e meio. e era frio. Eu não tinha relógio, mas eu sabia que já era bem tarde.

Eu dormi e depois dormi novamente. Eu queria me manter calmo. Só pensava nela e de como ela estava nervosa. 

Ouvi o barulho da porta se abrir na sala. Ela estava rindo falando no celular com alguém. asssuntos sobre roupas e comida. Ouvi ela colocar muiitas sacolas na mesa da cozinha. Finalmente ela veio  para o quarto. Pediu para a pessoa que ela estava falando esperar um pouco. Bateu na minha porta e perguntou se eu estava bem e eu disse que sim. Ela disse que ja ia abrir e que era rápido.

Assim que a Laura desligou o celular ela falou o que fez. que foi andar um pouco, fez umas compras no mercado e que iria fazer o jantar pra gente comer juntos. 

Eu estava aliviado. Laura estava de bom humor e rimos enquanto ela procurava a chave do banheiro. Ela não sabia onde estava. ouvi a Laura revirar as gavetas e nada de achar as chaves. Veio correndo na minha porta. Ela estava muito triste. Pediu desculpas pois naquela hora o chaveiro já estava fechado e pagar um de emergência saira muito caro e o dinheiro que tinha era para os remédios dela. 

Laura estava mesmo muito triste. Queria que nada disso tivesse acontecido e que não sabia o que fazer. 

Eu tentei acalmá-la como pude. falei que eu aguentaria ali até onde desse e que ela deveria descansar. Foi um dia muito complicado. 

Laura disse que iria continuar procurando as chaves. Disse que eu estava sem comer e isso não era justo. Disse que eu estava sendo muito atencioso e que eu era alguém que ela procurava fazia muito tempo. 

Escutei ela procurando as chaves revirando a bolsa. 

Eu perguntei se ela havia comprado um cabo para o meu celular carregar e ela disse que havia esquecido. Que estava preocupada com os remédios e agora estava começando a ter dor de cabeça pois andou o dia todo e nem vontade de fazer comida ela tinha mais. 

Eu não quis mesmo fazer mais perguntas. Era uma situação muito diferente do que se passava no cotidiano. Eu tbm precisava descansar. Tudo isso era incomum. 

Ela disse que ficaria na cama e dormiria apenas alguns minutos por causa da dor de cabeça mas que estaria lá. 

Eu sentei na privada com a tampa fechada e acabei dormindo lá mesmo. 

Acordei com frio e fome. Eu sentia que já era noite. As Luzes do apartamento estavam acesas. Ela bateu na minha porta. Disse que iria arrumar uma forma de me tirar de lá. que ia atévo síndico e ele ajudaria. Para eu aguentar só mais um pouco. Eu estava fraco demais para falar muito. Estava enjoado e com um zumbido na cabeça. Pensava lentamente. Era difícil processar o que ela dizia tão rapidamente. Mas vi que ela estava tentando me acalmar e com ansiedade para sair rápido do apartamento. Eu só dizia pra  trazer meu celular carregado mas ela já havia saído. 

Eu não podia fazer nada. Tive que sentar na privada e esperar.

Eu pensava nela no que ela dizia e falava. Imaginei e sonhei conversando com ela. Eu delirava. Não sabia quando ela voltaria. Imaginei os encontros que teria em um restaurante. eu só bebia água da torneira do banheiro. eu comecei a pensar em sair. Agora eu estava triste, faminto e desesperado. Comecei a ficar com raiva de tudo aquilo. 

Eu comecei a chacoalhar a pia do banheiro. Eu precisava quebrar o trinco ou a porta com alguma coisa e imaginei que quebrando a pia iria ter muitos pedaços para enfiar na beirada da porta. Cortar, rasgar e mover aquela porta. 

eu consegui arrancar a pia. chutei e quebrei tudo. Os pedaços eu usei na porta de várias maneiras como se fosse um presente de natal. Eu amarrei pedaços da minha camisa nas mãos para eu não me cortar. Consegui fazer um buraco em volta da fechadura e assim forcei até arrancar a fechadura e abrir. 

Consegui sair do banheiro. andei pelo apartamento. abri a geladeira e os amários e fui comendo tudo que eu encontrava para encher o estômago. 

Depois de 20 minutos comendo eu sentei na cadeira da cozinha. Eu estava parecendo um animal. Os restos de comida no chão e as portas abertas dos armários. Olhei para tudo aquilo. Fiquei com medo que ela fosse brigar muito comigo. Mas de repente eu estava pensando por que eu iria me importar. ela me trancou no banheiro. Mas ela não teve culpa. Era só brincadeira. Eu que fiquei descontrolado. Mas ela saia e nao voltava. Tudo bem. Ela tava tomando remédio. Eu quebrei todo o banheiro. o monstro era eu. Era difícil pensar. 

Procurei meu celular novamente. Não encontrei. Voltei pra cozinha. A mesa tinha papeladas e remédios. 

Olhei tudo que eu podia. Minha mente começou a ter um ritmo mais normal e meu corpo também. 

Comecei a procurar pistas. livros sobre tortura, testes de ratos, Pavlov, técnicas de manipulação, indução, controle mental, Lavagem Cerebral, Técnicas de doutrinamento. 

Isso tudo era um acervo muito perigoso. Será que ela estava me testando. Por que eu não conseguia ficar com raiva dela? O que ela fez comigo? 

Eu precisava sair de lá. Precisava de ajuda. Passei pela mesa da cozinha e vi cadernos de anotações. verifiquei seus textos. Eram sobre mim. meus dados minha vida. tudo mesmo. ela me estudou bem antes de me conhecer e fazer esses testes. 

Verifiquei os outros cadernos muitos homens que passaram por momentos bem parecidos com o meu e que só tiveram um único final. A Morte.

Eu tinha que sair. Aqueles cadernos tinham que ser levados para a policia. 

Mas ela poderia ser inocente. Talvez eu esteja exagerando tudo isso. Mas que Droga. Eu não consigo parar de pensar que ela é inocente e sei que não é. 

Eu ouvi a porta da entrada ser destrancada. Corri para a porta do outro quarto longe daquele banheiro.

Eu vi pela fresta da porta um homem entrar sozinho. Jogou as chaves na mesa e tirou uma arma da cintura e atarrachou um silenciador e foi em direção  ao quarto da Laura. Ouvi o celular dele tocar atendeu e falou com alguém. Corri  peguei os cadernos e a chave. tranquei a porta e sai do predio pulando as escadas. Fui até a delegacia e contei tudo o que eu havia passado. Deixei os cadernos como prova. 

A Policia prendeu ela e o seu cumplice. Conforme as notícias foram publicadas pela mídia, descobriram mais pessoas mortas por eles e vários desaparecimentos. 

Eu era a única testemunha viva naquele caso. 

Até hoje sinto remorço e tenho sentimento de culpa. Eu faço tratamento psicológico, mas ainda sofro muito e sonho todos os dias com ela. 


Passou um ano. Eu a visitava sempre na cadeia. trazia doces e bolos. Eramos amigos e estavamos falando ate em casar quando ela saisse de lá. 

Começou a sair sobre licença de bom comportamento em datas festivas. Era Natal. Eu a levaria para casa. Laura estava muito feliz com o nosso encontro como na primeira vez. Eu também queria ficar muito ao lado dela e aproveitar. Ela estava com a tornozeleira da policia no calcanhar poisr tinha que voltar na manhã seguinte. comemos muito e bebemos refrigerantes.

Pegamos uma corda e penduramos no teto como ela havia me falado. O plano era para eu colocar a corda no pescoço e fingir que eu havia cometido suicídio. Eu escreveria uma carta sobre eu ter matado todos os homens que ela estava sendo acusada e assim. sairiamos de lá e iriamos viajar para bem longe.  viveriamos a nossas vidas felizes. 

Eu subi e coloquei a corda no pescoço e simulei que estava enforcado. Pedi para ela se apressar, estava ficando muito calor e eu estava só com as pontas dos pés na cadeira.

Laura amarrou minhas mãos e tirou várias fotos. Agora eu sabia que eu teria uma nova vida sem documentos, mas eu teria a Laura ao meu lado para sempre. 

Ela conferiu as fotos e sorriu. Eu pedi pra que me desamarrasse , mas ao invés disso, ela chutou a cadeira. 

Eu não acreditava e tentei gritar nos microsegundos de minha existência ouvi ela dizer:


— Obrigada por me inocentar. Ha ha ha!



Escrito por Adriano Siqueira

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