Leitura: Encontros Espectrais | Mistérios do Desconhecido 1992
Por @Ise_albuquerque
Sempre tive afeição pelo sobrenatural, a possibilidade da existência de realidades paralelas são propostas sedutoras aos olhos dessa escritora que vos comunica. O livro que apresento hoje é leitura antiga. Lembro de ter folheado ainda na infância. A obra fazia parte da coleção do meu tio Xéu, todo santo mês tio Xéu trazia um novo exemplar da coleção – Mistérios do Desconhecido.
Essa coleção da Editora Abril remete à Time Life Books, uma coletânea brilhante com temas instigantes. Toda a diagramação e ilustrações assumem uma responsabilidade de enaltecer o tema o que de certa forma, torna a leitura ainda mais surpreendente. Com a colaboração do professor de sociologia Marcello Truzzi, da University Of Eastern Michigan, o exemplar que trago hoje também é fruto do trabalho do Fotógrafo britânico Simon Marsden, ilustre por seus registros fotográficos incomuns em preto e branco, Marsden captava a atmosfera taciturna dos ambientes por onde passava. E cinco dessas passagens estão registradas em "Encontros Espectrais". Uma delas são as ruínas do Castelo de Wilton.
As Almas do Castelo de Wilton
Erguendo-se na paisagem do sudeste da Irlanda, impõem-se as majestosas ruínas de um castelo. Até ser destruído totalmente por um incêndio, no comecinho da década de 20, o castelo de Wilton abrigou inúmeras gerações da Família Alcock, proeminente na região desde o século XVII. A se acreditar nas lendas locais, há um número considerável de fantasmas morando lá agora.
Uma das histórias fala sobre luzes que, às vezes, são vistas nas ruínas de uma das torres do castelo, onde uma mulher idosa, que fora a seu tempo atriz, morreu num incêndio. Uma outra lenda conta, que a alma de Harry Alcock, morto em 1840, é avistada partindo muito devagar numa carruagem fantasmagórica.
O relato mais estranho, no entanto, é sobre um vizinho, Archibald Jacob, que servia como magistrado e era também capitão de uma milícia local à época da rebelião contra a Grâ-Bretanha, em 1798. Jacob açoitou e torturou muita gente na paróquia. Uma noite em 1836, quando regressava de um baile no castelo de Wilton, Jacob sofreu uma queda de cavalo e morreu. Depois disso durante vários anos correram rumores de que sua alma assombrava o castelo. Um dia um padre católico foi chamado para exorcizar o castelo, no momento em que fez o sinal da cruz, há relatos da aparição do fantasma de Jacob na lareira, sumindo em seguida em uma névoa.
O Cavaleiro sem Cabeça
Outro destaque de "Encontros Espectrais" é a menção da lenda escocesa, "O Cavaleiro sem Cabeça", o enredo sombrio até serviu de inspiração ao renomado diretor Tim Burton para o filme "Sleepy Hollow" (1999)_
Na Escócia, os membros do Clã Maclaine, do distrito de Lochbuie, evitavam a todo custo ouvir à noite um tropel de cascos e o tinir de rédeas. Eles temiam encontrar um cavalo espectral conduzido por um cavaleiro sem cabeça, que anunciava mortes iminentes. O nome do cavaleiro era Ewen. Ele era filho e herdeiro do chefe do Clã Maclaine, mas invejava as riquezas do pai e pôs-se a hostilizá-lo. Houve muitos desentendimentos ao longo dos anos até o ponto de decidirem a liderança do clã em um duelo. Em 1538, pai e filho conduziram seus seguidores à batalha. Mas de maneira estranha Ewen foi decapitado por um dos seguidores do pai.
Retrato de uma dama
Charles Dickens
Embora o romancista Charles Dickens se irritasse com a paixão vitoriana pelo espiritualismo, o autor gostava de escrever a respeito do sobrenatural. Um de seus contos, publicado junto com outro três contos com o título "Quatro Histórias de Fantasmas", no periódico "All The Year Round", acabou transformando uma realidade tão estranha que até mesmo o cético autor convenceu-se de que dera um esbarrão no sobrenatural.
A história de Dickens se passava no ano de 1861 e diz respeito a um retratista da alta sociedade, cujo nome era mencionado como Senhor H. O retratista viajando de trem para uma mansão no interior encontrou no dia 13 de setembro uma jovem de aparência frágil. Depois de uma breve conversa, ela lhe pergunta se ele sabia pintar alguém de memória. O artista responde que não tem certeza, mas que talvez seja possível.
"Bem", ela diz, "olhe para mim outra vez". Talvez tenha que reproduzir minhas feições. "O senhor H estuda a fisionomia da moça atentamente, em seguida despedem-se. Dois anos depois, um certo Wylde faz uma visita ao pintor e pergunta-lhe se seria capaz de pintar um retrato baseado numa descrição. O visitante passa então a descrever a filha, morta há dois anos, de quem deseja um retrato. O artista tenta alguns esboços, sem sucesso. Aí, num momento de inspiração, ele desenha a jovem que conhecera no trem. "No mesmo instante", escreveu Dickens, "um olhar de reconhecimento e prazer iluminou o rosto do pai que exclamou: 'É ela!' " O artista perguntou quando a filha do senhor Wylde morrera e o homem responde: "Há dois anos; no dia 13 de setembro."
Poucos dias depois da publicação, Dickens recebeu uma carta extraordinária de um retratista, informando-lhe que o conto All the Year Round coincidia, nos detalhes mais espantosos, com uma experiência real sua, experiência que ele relatara por escrito com intenção de publicar. O encontro com a jovem no trem e o pedido posterior do pai para pintá-la constavam no relato do artista que, naturalmente, pensou que Dickens tivesse de alguma maneira ficado sabendo da história e se apropriado dela.
"Principalmente porque", escreveu o indignado retratista em sua carta a Dickens, "de que outra forma a data 13 de setembro, poderia estar certa se eu nunca a mencionei, até pôr tudo no papel?"
"Ora, a minha história", narrou Dickens depois, "estava sem data; mas, ao repassar as provas, percebi a importância de ter uma data: escrevi, inconscientemente o dia e mês exatos à margem da prova!"
Entre essa e outras histórias, o livro narra inúmeros episódios assombrosos, cada página um susto pertinente.
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