Carros Assombrados
Relato sobre vampiros
Diario do Luney - 1994
Dez anos após a Rose, minha ex-namorada, desaparecer inexplicavelmente, minha vida tinha seguido um novo caminho. O sobrenatural. Minhas fixações eram livros que falavam sobre o oculto. Meus contatos com os amigos eram superficiais.
Tornei-me sombrio e cada vez mais solitário. O ano de 1994 estava sendo pesado.
Com a morte de Kurt e Airton, previa-se que este ano os rachas e o rock estavam em perigo. Sentia que alguma coisa terrível estava para acontecer e esses fatos só me deixavam mais certo disso.
A era dos computadores havia chegado. Eu estava tendo aulas sobre Clipper e Dbase. Tinha acabado de comprar um 386 e como a tela era VGA e eu não tinha mais dinheiro para investir em meu novo PC. Só me restava mesmo acessar a BBS, para fazer downloads de imagens em Gif e pequenos jogos, como Stunts e Indy. Minha paixão por corridas ainda permanecia.
O Sujeira, meu amigo, estava também ligado ao ocultismo e sua ajuda era muito bem-vinda quando eu tinha dúvidas. Foi ele que me indicou uma religião que falava com Óvnis e foi lá que conheci uma mulher que iria marcar novamente minha vida.
Enquanto eu e o Sujeira fazíamos uma análise sobre os frequentadores daquela religião, um carro parou na frente da casa onde o pessoal se reunia. Um Opala SS de duas portas coupé, preto, com a carroceria inclinada, que tinha estampado um desenho de uma teia. Fiquei babando. Aquele carro era lindo. Desci as escadas cambaleando. Quando toquei no carro, a porta se abriu, e um mulherão de 1,70 de altura, com cabelos negros e uma roupa que parecia ser da Natasha, personagem da novela Vamp, desceu. Ela olhou para mim como se eu fosse seu próximo lanche
noturno.
— O nome do carro é Viúva Negra. Quer saber por quê?
— N... nã... Não!
Meu nome é Sandra, mas pode me chamar de Lótus... Black Lótus.
— O meu é Bond... Mas pode me chamar de Luney.
— Vai ver ele não tratou das mulheres como deveria.
— É... Vai ver.
Dei um sorriso, pois fiquei encantado com suas respostas rápidas. Afinal, não era todo mundo que conhecia James Bond - até então, seu último filme tinha sido em 1989.
Sandra havia acabado de retornar dos EUA e parecia ter uma experiência com o oculto, maior do que a minha e a do Sujeira. Aliás, o Sujeira estava desconfiado dela. Afinal, o que uma garota como ela fazia por ali?
Naquela noite, quando fomos embora, vimos o carro dela a duas quadras dali, e ela estava com um dos caras da tal religião que estávamos analisando. Eles se abraçaram e foram embora no carro.
No dia seguinte, o cara que vimos com Sandra não apareceu, porém ela estava lá novamente. Perguntei sobre o cara, mas ela foi muito direta quando me disse que ele já era grandinho e que tinha escolhido um outro caminho pra seguir.
Novamente, quando fomos embora, encontrei ela com outra pessoa, uma mulher da mesma religião que, mais uma vez, também desapareceu.
No outro dia, Sandra estava lá.
Isso tinha que acabar. Corri em sua direção e antes dela entrar na casa, segurei-a pelos braços e disse:
— Sandra, já chega! Duas pessoas estão desaparecidas e penso em contar à polícia sobre tudo isso.
— Não seja bobo, Luney. Jamais achariam os corpos. Se quer realmente saber onde estão, por que não entra no carro para conversarmos?
Enquanto ela me levava para longe dali, eu tentava entender o que se passava.
— Sandra, eu gostei de você. Quero ser seu amigo. Talvez tudo seja uma coincidência. Eu também sou sozinho e quero alguém comigo. Alguém como você.
— Você não iria me querer, Luney. Eu... Eu estou presa ao mundo, ao carro.
— Oras! Eu também gosto de carros e sei como é gostoso ficar dentro dele, participar do mundo, como na série Supermáquina.
— Isto não é uma série, Luney. Veja isso.
Ela levantou a manga de um dos braços e fiquei em choque... Existia uma agulha enfiada nela e ligada ao tubo, que ia diretamente para o volante. Ligados como num pacto.
- Mas que diabo é isso?
- O carro precisa de sangue, Luney. Sangue ao invés de gasolina. E se eu não encontrar pessoas para alimentá-lo eu morro aqui, entendeu agora?
Fiquei louco de raiva e de medo, pois sabia que se ela estava contando isso, era porque eu seria o próximo. Foi quando vi vários carros cercando a gente.
— Saiam do carro! Mãos para cima!
Pela primeira vez, fiquei feliz em ver a polícia.
Sujeira saiu de um dos carros e disse:
— Luney! Esqueci de dizer que temos um amigo que agora trabalha na polícia.
Nisso, um policial bate nas minhas costas e fala:
— Não me conhece mais?
— Babu? Cara, desde quando você é policial?
— Desde do desaparecimento da Rose! Este caso ainda não saiu da minha cabeça!
Enquanto eu falava com o Babu os outros policiais pediram para Sandra abrir o porta-malas. Ela estava chorando muito e dizendo que iria morrer.
Quando os policiais abriram o porta-malas, uma enxurrada de sangue se lançou sobre eles. Isso fez com que se afastassem. Foi quando o carro ligou e começou a acelerar sozinho.
Rapidamente Sandra entrou no carro e, em segundos, ambos sumiram de vista.
Logo em seguida ouvimos uma derrapada e uma batida. Entramos no carro de polícia e fomos até o local.
Nunca vou me esquecer daquela cena. O Viúva Negra estava preso entre duas árvores, bastante amassado. Sandra tentava sair, mas estava presa aos tubos que saíam do carro. Fui até lá e peguei a sua mão.
— Ajude-me! Por favor!
A porta do carro abriu e me jogou longe, enquanto a polícia me ajudava a levantar, ouvíamos os gritos de Sandra, o carro acelerava, mas estava preso, até que finalmente o motor parou e a porta abriu.
O corpo de Sandra estava completamente sem sangue.
Não havia mais nada que eu pudesse fazer. Só avisar para tomarem cuidado quando removerem com o guincho... pois se ele se alimentar novamente, talvez não tenhamos a mesma sorte.
Dez anos após a Rose, minha ex-namorada, desaparecer inexplicavelmente, minha vida tinha seguido um novo caminho. O sobrenatural. Minhas fixações eram livros que falavam sobre o oculto. Meus contatos com os amigos eram superficiais.
Tornei-me sombrio e cada vez mais solitário. O ano de 1994 estava sendo pesado.
Com a morte de Kurt e Airton, previa-se que este ano os rachas e o rock estavam em perigo. Sentia que alguma coisa terrível estava para acontecer e esses fatos só me deixavam mais certo disso.
A era dos computadores havia chegado. Eu estava tendo aulas sobre Clipper e Dbase. Tinha acabado de comprar um 386 e como a tela era VGA e eu não tinha mais dinheiro para investir em meu novo PC. Só me restava mesmo acessar a BBS, para fazer downloads de imagens em Gif e pequenos jogos, como Stunts e Indy. Minha paixão por corridas ainda permanecia.
O Sujeira, meu amigo, estava também ligado ao ocultismo e sua ajuda era muito bem-vinda quando eu tinha dúvidas. Foi ele que me indicou uma religião que falava com Óvnis e foi lá que conheci uma mulher que iria marcar novamente minha vida.
Enquanto eu e o Sujeira fazíamos uma análise sobre os frequentadores daquela religião, um carro parou na frente da casa onde o pessoal se reunia. Um Opala SS de duas portas coupé, preto, com a carroceria inclinada, que tinha estampado um desenho de uma teia. Fiquei babando. Aquele carro era lindo. Desci as escadas cambaleando. Quando toquei no carro, a porta se abriu, e um mulherão de 1,70 de altura, com cabelos negros e uma roupa que parecia ser da Natasha, personagem da novela Vamp, desceu. Ela olhou para mim como se eu fosse seu próximo lanche
noturno.
— O nome do carro é Viúva Negra. Quer saber por quê?
— N... nã... Não!
Meu nome é Sandra, mas pode me chamar de Lótus... Black Lótus.
— O meu é Bond... Mas pode me chamar de Luney.
— Vai ver ele não tratou das mulheres como deveria.
— É... Vai ver.
Dei um sorriso, pois fiquei encantado com suas respostas rápidas. Afinal, não era todo mundo que conhecia James Bond - até então, seu último filme tinha sido em 1989.
Sandra havia acabado de retornar dos EUA e parecia ter uma experiência com o oculto, maior do que a minha e a do Sujeira. Aliás, o Sujeira estava desconfiado dela. Afinal, o que uma garota como ela fazia por ali?
Naquela noite, quando fomos embora, vimos o carro dela a duas quadras dali, e ela estava com um dos caras da tal religião que estávamos analisando. Eles se abraçaram e foram embora no carro.
No dia seguinte, o cara que vimos com Sandra não apareceu, porém ela estava lá novamente. Perguntei sobre o cara, mas ela foi muito direta quando me disse que ele já era grandinho e que tinha escolhido um outro caminho pra seguir.
Novamente, quando fomos embora, encontrei ela com outra pessoa, uma mulher da mesma religião que, mais uma vez, também desapareceu.
No outro dia, Sandra estava lá.
Isso tinha que acabar. Corri em sua direção e antes dela entrar na casa, segurei-a pelos braços e disse:
— Sandra, já chega! Duas pessoas estão desaparecidas e penso em contar à polícia sobre tudo isso.
— Não seja bobo, Luney. Jamais achariam os corpos. Se quer realmente saber onde estão, por que não entra no carro para conversarmos?
Enquanto ela me levava para longe dali, eu tentava entender o que se passava.
— Sandra, eu gostei de você. Quero ser seu amigo. Talvez tudo seja uma coincidência. Eu também sou sozinho e quero alguém comigo. Alguém como você.
— Você não iria me querer, Luney. Eu... Eu estou presa ao mundo, ao carro.
— Oras! Eu também gosto de carros e sei como é gostoso ficar dentro dele, participar do mundo, como na série Supermáquina.
— Isto não é uma série, Luney. Veja isso.
Ela levantou a manga de um dos braços e fiquei em choque... Existia uma agulha enfiada nela e ligada ao tubo, que ia diretamente para o volante. Ligados como num pacto.
- Mas que diabo é isso?
- O carro precisa de sangue, Luney. Sangue ao invés de gasolina. E se eu não encontrar pessoas para alimentá-lo eu morro aqui, entendeu agora?
Fiquei louco de raiva e de medo, pois sabia que se ela estava contando isso, era porque eu seria o próximo. Foi quando vi vários carros cercando a gente.
— Saiam do carro! Mãos para cima!
Pela primeira vez, fiquei feliz em ver a polícia.
Sujeira saiu de um dos carros e disse:
— Luney! Esqueci de dizer que temos um amigo que agora trabalha na polícia.
Nisso, um policial bate nas minhas costas e fala:
— Não me conhece mais?
— Babu? Cara, desde quando você é policial?
— Desde do desaparecimento da Rose! Este caso ainda não saiu da minha cabeça!
Enquanto eu falava com o Babu os outros policiais pediram para Sandra abrir o porta-malas. Ela estava chorando muito e dizendo que iria morrer.
Quando os policiais abriram o porta-malas, uma enxurrada de sangue se lançou sobre eles. Isso fez com que se afastassem. Foi quando o carro ligou e começou a acelerar sozinho.
Rapidamente Sandra entrou no carro e, em segundos, ambos sumiram de vista.
Logo em seguida ouvimos uma derrapada e uma batida. Entramos no carro de polícia e fomos até o local.
Nunca vou me esquecer daquela cena. O Viúva Negra estava preso entre duas árvores, bastante amassado. Sandra tentava sair, mas estava presa aos tubos que saíam do carro. Fui até lá e peguei a sua mão.
— Ajude-me! Por favor!
A porta do carro abriu e me jogou longe, enquanto a polícia me ajudava a levantar, ouvíamos os gritos de Sandra, o carro acelerava, mas estava preso, até que finalmente o motor parou e a porta abriu.
O corpo de Sandra estava completamente sem sangue.
Não havia mais nada que eu pudesse fazer. Só avisar para tomarem cuidado quando removerem com o guincho... pois se ele se alimentar novamente, talvez não tenhamos a mesma sorte.
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Curiosidades: - A história do "Luney - o exorcista de carros assombrados", Personagem que criei em 2004, participou dos livros: ADORÁVEL NOITE 2011 na história "O Carro maldito" e também participou do livro ESPECTRA HISTÓRIAS DE FANTASMAS 2011 Organizado por Georgette Silen, e nele escrevi a história "70 Km por hora". Luney também fez uma ponta superimportante no meu livro "A MALDIÇÃO DO CAVALEIRO 2012" no capítulo "Cale a boca e dirija".
Tem a primeira história deste personagem aqui neste blog... neste Link
http://contosdevampiroseterror.blogspot.com.br/2014/07/carros-assombrados-o-carro-vampiro.html
Abraços
Adriano Siqueira
Abraços
Adriano Siqueira
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Lord Dri, fazia tempo q eu não lia seus textos mas adorei esse do carro maldito, mto bom. A Sandra é bastante sensual e misteriosa. Adorei a referência à 007 rssss. Seus textos continuam mto deliciosos. Até já coloquei um link seu no meu novo blog e quero q saiba q "estou te seguindo" a partir de hj. Um beijinho p/ vc meu doce vampiro
ResponderExcluirmuito prende este conto. faltou apenas um pouco mais de suspense, pareceu um pouco previsível. Mas adorei o estilo dos anos 90, a personagem que é fofa... e um fim bem dramático.
ResponderExcluirBlog Suicide Virgin
Tropecei no seu blog por acidente mas estou muito feliz por isso... Adorei... Adicionei você na minha lista de blogs que estou a seguir...
ResponderExcluirGostei muito do seu conto foi realista introduzindo os vampiros na rotina cotidiana e tarznedo de volta a lembrança dessas criaturas .Parabéns gostei tanto que postei no meu blog
ResponderExcluirbLooD Kisses
Gostei da ideia do carro vampiro. Só achei o Loney muito ingênuo. Deveria ter tido outra atitude quando ela disse: nunca encontrarão os corpos.
ResponderExcluirIngênuo mesmo Álvaro. e brigado por passar por aqui :-)
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