terça-feira, 5 de agosto de 2014

Um conto para o Dia dos Vampiros

Este Conto foi produzido para homenagear o "Dia dos Vampiros"
Abraços Adriano Siqueira

O Dia dos Vampiros
Por Adriano Siqueira

Eram oito horas e chovia muito. Alberto acabava de voltar da loja de fantasias. Foi buscar a sua roupa de vampiro e como já estava bastante atrasado, ele vestiu a fantasia lá mesmo. Correu para esquina, que era o lugar marcado pela sua esposa Jéssica para pegá-lo.
Ele tinha que esperará-la. Essa dependência o deixava louco. A fantasia estava cada vez mais molhada. Ele praguejava muito, Se não fosse por causa do dinheiro, Alberto já a teria largado. Foi por isso que ele casou, por dinheiro, mas o pai dela era esperto e jamais autorizou a filha a comprar sequer um carro para ele. Como ela tinha que buscar a roupa dela deixou Alberto na loja e foi se arrumar dizendo que iria voltar para buscá-lo. Ele procurou se acalmar e respirou fundo. Afinal era uma noite especial! Nela, se comemorava o Dia dos Vampiros. Ele adorava este tema. Alguns bares e casas noturnas comemoravam este dia e os frequentadores se vestiam como vampiros.
Alberto ficou reclamando até ser surpreendido por um raio que atingiu um poste que estava vindo em sua direção, mas foi impedido por um homem. Ele segurou o poste e o jogou para outro lado evitando a sua morte. Antes do Alberto agradecer, um outro raio apareceu e o homem desapareceu sem deixar pistas e junto com ele a chuva parou completamente. O chão estava completamente seco e não tinha sinal de que havia chovido. Somente Alberto estava molhado.
Ainda sentado no chão, embasbacado com a cena, Alberto sentiu o cano de uma arma em sua cabeça.
— Nós o pegamos! Avisem a aldeia que o vampiro está em nossas mãos! Agora!
Muitas pessoas armadas com inúmeros tipos de armas diferentes estavam na rua. Alberto não entendeu o que estava acontecendo. Nada era como antes. As ruas, as casas estavam diferentes. As roupas das pessoas eram muito antigas.
A mulher gritou no meio da multidão:
— Sim, foi ele! Ele matou minha irmã! Sugou todo o seu sangue! Arrancou a sua cabeça e jogou os seus restos para os lobos!
Alberto desesperou-se. Eles estavam procurando um vampiro e ele estava usando as roupas de um. Ele começou a gritar em protesto. Mas os homens não davam ouvidos. Eles queriam justiça. Alberto foi alvejado ali mesmo, sem ter o direito de poder explicar ou mesmo entender o que se passou. Com o corpo perfurado pelas balas, os homens atacaram novamente, mas desta vez, com estacas. Deixando Alberto com várias estacas atravessadas pelo corpo.
A multidão se afastou e um padre foi até o seu corpo. Retirou a espada da bainha e cortou-lhe a cabeça, recolheu-a do chão e mostrou para os outros dizendo:
— Finalmente destruímos o vampiro. Nunca mais teremos problemas com a sua espécie. Estamos entrando em uma nova era de paz para a comunidade!
* * *
No mesmo lugar. Alguns séculos depois, uma mulher dirigindo um carro pára na esquina e vê um homem usando uma roupa de vampiro... Ela sorri.
— Vamos Alberto! Estamos atrasados. Hoje é o dia dos vampiros. Esta noite será maravilhosa!
Ela levou um susto quando descobriu que ele não era o seu marido. Tentou gritar, mas a voz não saiu. Ficou olhando para os seus olhos negros. Aos poucos, sucumbiu completamente ao seu poder. Ela abriu a porta do carro. O vampiro entrou e sorriu. Segurou uma de suas mãos enquanto acariciava os seus cabelos.
— É uma honra ter um dia só para mim. Meu nome é Lorde Dany Ray I. Qual é o seu?
— Jéssica! Meu Lorde.
— Seus olhos lembram os de uma bruxa que conheci no passado. Moramos juntos por algum tempo até que uma outra bruxa a matou e disse ao povo da aldeia que eu era o assassino. Minha ira foi tão grande que fui até a aldeia para vingar a sua morte. Eu arranquei a cabeça dela e joguei para os lobos. Porém a reação da comunidade não foi muito cativante e pela primeira vez tive que fugir quando encontrei um homem usando uma roupa parecida com a minha. Eu o ajudei e tentei alerta-lo que ele seria caçado, mas por algum motivo místico acabei vindo para este mundo desconhecido. Você entende o que estou falando Jéssica?
— Claramente meu lorde! Acredito que o homem seja o meu marido. Acho que ele teve o que merecia. Meu pai enviou umas provas mostrando que ele me traiu com várias mulheres e usou o meu dinheiro para pagar as contas. Meu lorde! Posso ser muito útil. Pratiquei bruxaria por um bom tempo e espero que meu conhecimento seja bem aproveitado para os seus serviços.
— Tenho certeza que será minha dama. Em um futuro próximo.
O lorde segurou a mão da Jéssica e ficou cheirando o seu perfume.
— Fico me perguntando como um homem poderia trair uma mulher tão linda e cheirosa como você! – Ele acomodou-se no banco do carro e falou pensativo.
— Agora leve-me para um lugar onde eu possa aprender um pouco mais sobre o seu povo e sobre este dia dos vampiros.
Obediente aos seus comandos Jéssica levou o Lorde até a festa onde iria com o seu marido. No caminho o Vampiro ficou atento e absorveu rapidamente a cultura desta nova época.
— Afinal, o seu mundo não é muito diferente do meu. Apesar das novas inveções, os homens ainda insistem em divulgar a sua própria imagem nelas! A beleza e o poder ainda são cobiçados por vocês!
Quando o carro de Jéssica para em um semáforo eles são atacados por dois bandidos.
— Sai do carro! Isso é um sequestro!
O vampiro precebeu rapidamente que eram ladrões desta época. Usou o seu olhar sobrenatural e começou a dar sugestões para um dos bandidos.
— Seu amigo fez amor com a sua mulher várias vezes! Atire nele!
O bandido acreditou nas suas palavras. Apontou a arma na cabeça do amigo dele e atirou sem dar tempo para reagir. O vampiro atacou sem compaixão e mordeu o seu pescoço e arrancou a cabeça do bandido para que não se transforma-se em vampiro.  Um táxi se aproximou e o motorista perguntou o que havia acontecido. O lorde sorriu e respondeu:
— O estresse desta cidade fez com que este pobre homem perdesse a cabeça!
Jéssica chegou ao local planejado, estacionou o carro na frente de uma mansão. e juntos entraram na festa.
O lugar estava agitado. As pessoas dançavam e comemoravam o dia dos vampiros. O lorde observou a festa com muita atenção. Ele notou um banner pendurado que dizia “Dia dos Vampiros – 13 de agosto”.
Algumas pessoas passavam perto deles e mostravam os seus caninos postiços. Um deles foi bem mais ousado, além de mostrar os caninos agarrou a Jéssica e tentou mordê-la. Isso deixou o lorde enfurecido. Ele veio de um mundo onde o cavalheirismo e a cortesia eram atitudes cotidianas. Pelo menos, até o dia que ele foi caçado. Ele tinha que reconquistar o seu respeito. Agarrou o pescoço do humano e o trouxe bem para perto de si. O rapaz mostrou os dentes postiços e o lorde mostrou os dele, bem maiores, como os de um leão, mas o lorde percebeu que ele não era um perigo. Largou o rapaz e continuou andando com a Jéssica.  O rapaz gritou para o lorde.
      Seus dentes são perfeitos! Pode me dar um autógrafo?
A Jéssica deu para o lorde o papel e uma caneta e ele escreveu.  Lorde D.R.I.
      Legal! Depois me passa o telefone do seu dentista! Vou querer os caninos iguais aos seus na próxima festa!
A música estava mais calma e alguns pares se juntaram na pista de dança. Lorde abraçou Jéssica e aos poucos seus movimentos foram acompanhando a música. Ele sussurrou:
— Preste atenção Jéssica. Quero que me abrace bem forte... Vou mostrar um pouco do meu poder.
O lorde flutuou e foi subindo até chegar a um metro do chão. Todos que estavam na pista aplaudiram achando que fosse parte do show. Quando ele voltou a colocar os seus pés no chão afastou Jéssica, levantou as mãos e com apenas um gesto, as luzes do lugar aumentaram de intensidade. Alguns pequenos raios passavam de um lado para o outro. Entrando e saindo das luzes. De repente todas as luzes apagaram e uma pequena iluminação apareceu bem no centro da pista. Um lobo branco apareceu e saltou sobre as pessoas espantadas, e correndo pelas paredes do lugar. depois de algumas voltas saltou na direção de Jéssica, mas antes de tocar em seu corpo com as suas enormes patas, o lobo se transformou em uma coruja branca. A coruja ficou alguns segundos parada, apenas batendo as suas asas, logo em seguida, pousou suavemente no braço da Jéssica. Ela deu um beijo na coruja e tudo voltou a escurecer.
Quando a luz voltou o lorde e Jéssica estavam no meio da pista se beijando. As pessoas, impressionadas, começaram a aplaudir.  Depois do beijo, Jéssica deu um sorriso para o lorde e sussurrou no seu ouvido.
— Você foi perfeito meu lorde.
— Obrigado minha dama. Mas confesso que estou com fome.
Jéssica fechou os olhos e movimentou o seu pescoço em direção ao vampiro, mas ele acariciou o seu rosto e o direcionou para os seus olhos.
— Ainda não minha dama! Preciso de você para me dar proteção quando amanhecer. Meus poderes enfraquecem de dia e eu ainda não tenho onde me esconder...
Antes de completar o seu raciocínio as luzes do palco que ficava em frente a pista de dança se acenderam. Uma pessoa usando um capuz, foi para o centro do palco, pegou o microfone e começou a falar.
— Amigos vampiros! Chegou à hora de nos reunirmos para o grande momento desta festa! Todos sabem que hoje é o dia dos vampiros. Hoje! É o dia em que todos os vampiros aparecem para nos dar boas vindas e mostrar como o nosso mundo pode ser melhor! Este é o momento de contarmos a nossas histórias!  Como sou o anfitrião eu escolho quem será o vampiro que vai nos contar um pouco da sua vida. Chamo para o palco aquele vampiro que a instantes nos deu um maravilhoso show de mágicas com lobos e raios.
Todos olharam para o lorde. Ele olha para Jéssica e sorri. Tornou a olhar para o palco e caminhou em direção do anfitrião. Dispensou o microfone, deu uma boa olhada nas pessoas que estavam na festa, levantou as mãos, e começou a falar. A sua voz era forte como um trovão.
— Estou a pouco tempo por aqui, e neste pouco tempo, já aprendi muito sobre os costumes deste novo mundo! Vocês vivem em um lugar onde os cientistas produzem inventos para recuperar o que eles mesmos destruíram.  Querem ficar livres. Livres dos bandidos, das doenças, dos que atormentam vocês! Darei o poder que vocês precisam para vencer todos os obstáculos deste mundo! Eu perdi uma batalha no passado. Estava sozinho. Mas agora! Juntos! Somos imbatíveis! Para que o mundo precisa de bandidos? Para que servem os que só pensam em destruir? Eu digo a vocês... Eles serão nossos alimentos. Serão nossa fonte de energia. Em troca da ajuda de vocês. Darei conhecimento. Darei um lugar para ficar e um mundo para governar! Serei seu arauto! Seu anjo da morte! Em troca quero respeito e principalmente... Sua lealdade!
O Lorde gesticulou as mãos e se transformou em um morcego. Voou por todo o local e voltou ao palco, agora em sua forma original. Todos aplaudiram o vampiro. O lorde olhou e ficou satisfeito com o resultado das suas palavras.
De repente ele sente uma estaca atravessando o seu peito. Ele foi pego de surpresa. Olhou para o anfitrião. Ele tira o capuz e o vampiro o reconhece imediatamente. Era do padre que o caçava em outra época. O vampiro cai de joelhos. Olhou para as pessoas, finalmente viu a Jéssica. Ele tenta pedir ajuda. Ela olhou e mesmo não estando mais em seu domínio, ela chora, e antes que o vampiro pudesse dizer algo seu corpo caiu inerte ao chão e se transforma em cinzas.
anfitrião presenciou um pequeno tumulto no local. Ele pedia calma para todos. Começou a falar no microfone.
— Eu criei este lugar! Eu reuni cada um de vocês para poder um dia achar um verdadeiro vampiro! Era a ordem da minha família! Era o meu legado! As cartas da minha família alertaram a sua vinda!
anfitrião pisou nas cinzas do lorde e voltou a falar para todos.
— Talvez ele pudesse realmente resolver nossos problemas, mas quando ele acabasse com todos os humanos desprezíveis da terra qual seria o seu próximo passo? Quais seriam os próximos tipos de pessoas de quem ele iria se alimentar? Quem joga lixo na rua? Quem faz colas na prova? Ele iria exterminar todos os humanos usando como semblante os erros que cometemos. Seria assim até não existir mais ninguém. 
As pessoas que estavam ouvindo o anfitrião discutiam os seus pontos de vista! Alguns diziam que ele não tinha o direito de exterminar um vampiro.  Outros concordavam com a sua ação. Dentre tudo isto. Jéssica aproximou cautelosamente do palco e recolheu todas as cinzas do vampiro. Naquela pequena troca de olhar que tiveram, antes dele ser destruído, foram passados todo o conhecimento que ela precisava para reviver a criatura.
 
 

Obs: O DIA DOS VAMPIROS “13 de agosto” foi criado pela atriz/escritora Mariliz Marins (criadora e intérprete da Vampira LIZVAMP, filha do ZÉ DO CAIXÃO).

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