segunda-feira, 13 de agosto de 2018

A visita- miniconto - Adriano Siqueira



A visita

Muitos não gostam de ir aos hospitais. Temem ficar por lá e morrerem em uma maca sem ajuda, sem amigos e sem família. Mas o índice dos hospitais é que apenas uma pequena porcentagem morre nas cirurgias e atendimentos.

Grande parte sai com vida. Se todos procurassem um médico quando sentissem algo diferente no seu corpo, certamente haveria menos mortes. A precaução é o ponto chave para viver mais tempo.

Eu respeito muito os horários de visitas. As leis que devem ser respeitadas. Os horários são bem calculados para que o paciente tome os seus remédios e se alimente de forma correta.

Eu andei pelos corredores no terceiro andar e procurei o número da sala onde estaria o paciente que estava procurando.quarto 37. O nome do paciente era Camilo Vasques.

Um grande amigo desde a minha adolescência. Encontrei a sala e entrei. Ele estava deitado e dormia tranquilamente.

Não havia ninguém no local.
Camilo estava muito silencioso. Ele sempre era agitado.
Gostava de viajar e se aventurar em suas ideias.
Olho para a janela e vejo gotas de água nos vidros.

Chovia muito. Era nesses dias de chuva que vivíamos nossas aventuras. Sempre que chovia ele tinha uma ideia e era na chuva mesmo que andávamos para realizar suas
loucuras. Bastava chover para ver que eu iria entrar em uma nova aventura. Ele gostava muito da chuva.

Infelizmente eu não pude mais acompanha-lo. O destino sempre é inesperado. Fui afastado da nossa amizade.

Vejo agora que sua respiração ficou mais lenta. Estava diminuindo rapidamente. Ele tenta abrir a boca para respirar mais ar, mas é inútil. Seu corpo se mexe por alguns instantes. Os batimentos cardíacos aos poucos diminuem.

Ele já não respira mais. O coração desacelera até que para de bater.
Eu fecho os meus olhos por alguns instantes e espero.
Finalmente ele acorda. Eufórico como sempre foi.
Olha para todos os lados e ele me vê. Reclama da cama gelada e do frio. Diz que o hospital era horrível com os pacientes.
Nunca faziam o que ele pedia.

Esse era o Camilo. Sempre reclamava. Não deixava a gente falar. E se tentássemos falar algo ele já interrompia dizendo que a gente não sabia de nada.

Finalmente ele me olhou e ficou mais revoltado. Começou a dizer o quanto a vida dele ficou difícil depois que parti. Eu pedi desculpas. Mas não adiantou. Disse tudo que teve vontade. Até que finalmente admitiu que estava com saudades. Eu era o único que o ouvia por mais de um minuto e que a solidão o deixou desmotivado, calado e se sentiu abandonado. Finalmente ele me xingou. Seu broaca e disse que nunca me perdoaria por ter ido primeiro.
Eu sabia que quando ele me xingava assim era por gostar de mim. Eu sorri.

Eu expliquei que agora estaríamos juntos e eu o ensinaria a se adaptar e que um dia ele seria como eu. Ser um guia das pessoas que partiram, que morreram.


Por Adriano Siqueira


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