Por favor, Posso Morder Seu Pescoço Enquanto o Titanic
Afunda?
Por Adriano Siqueira
– Eu estou dizendo que é uma das relíquias que
estavam no Titanic!
O homem de nome Lúcio dizia desesperado mostrando a foto para
o seu amigo Roberto em um restaurante noturno no centro da cidade de São Paulo.
Roberto olhava atentamente a foto que foi tirada a pouco tempo em um Picnic de
fãs de Steampunk. Ele analisa bem a foto mostrando uma xícara com um simbolo
bem parecido com os usados no transatlântico RMS Titanic que naufragou em 1912.
Roberto comenta:
– Olha Lúcio. Mesmo que seja uma xícara do
Titanic isso não comprova a existência de vampiros nesta cidade. E muito menos
que este grupo sejam vampiros. Lembro você que esta peça poderia estar em
leilão e alguém pode comprar ou mesmo falsificar.
– Dê uma boa olhada Roberto. Olhe o lenço nos
pescoços deles tentando esconder as mordidas dos vampiros.
– Mas... Isso pode ser a moda deles não seja louco
você quase matou alguém ontem com esta sua paranoia. Você precisa de um médico.
Sem perceber como, uma mulher puxa uma cadeira e senta ao
lado deles. Roberto vê que ela se parece muito com a mulher da foto. Ela sorri
e pega a foto e explica:
– Realmente é do Titanic. Bastariam ter
perguntado.
– Como... Como você sabe que estávamos aqui? -
Lúcio pergunta assustado.
– Não se preocupe. - Diz ela. - Logo você não vai
se preocupar com mais nada.
E sorri mostrando os seus caninos pontiagudos.
Roberto tenta se acalmar. Tira um lenço do seu bolso e passa
em sua testa. Olha para os dois na mesa e começa a perguntar tentando achar
respostas desta loucura.
– Então você é uma vampira e viveu na época em que
o Titanic afundo.
– Não... Eu usei o Titanic para chegar até aqui.
– É uma história interessante.
Lúcio queria sair da mesa mas a vampira segurou a sua mão e
com um olhar Lúcio se sentou e ficou atento as respostas da mulher.
– Meu nome é Catherine Dale sou da Inglaterra e
peguei o Titanic para ir para Nova York.
Roberto olha para Lúcio e ve que ele está tremendo um pouco.
– Você está bem Lucio?
– Não se preocupe com ele.- Dizia Catherine...
continuando...
– Eu era a última vampira e estava sendo
perseguida por caçadores na Inglaterra. Eu tinha que sair de lá. O Titanic era uma
ótima maneira de sair. Ninguém se importaria comigo e eu sabia que o
Transatlântico era rápido e bastante requintado.
– Mas algo deu errado. Não é? O iceberg...
– Não! Não tão rápido. Eu estava me alimentando
durante a viagem. Pegava alguns homens e sugava o sangue deles. Escondia seus
corpos na quarta chaminé que era usada apenas para ventilação. Em pouco tempo
eu havia sugado o sangue de vinte passageiros.
– Parece que você iria ter mesmo uma boa viagem. E
o que aconteceu depois.
– Alguns caçadores estavam no navio. Eles sabiam
que eu estava lá. Queriam evitar que eu fosse para Nova York.
– Evitar... A qualquer custo?
– Sim... Eles estavam preparados para me matar.
Mesmo que isso levasse o navio ao naufrágio.
– Então eram terroristas?
– Eram caçadores. Mas tinham ordens de fazer de
tudo para evitar minha chegada a Nova York. Eu fui esperta. Haviam 10 caçadores
e matei todos que consegui. só ficaram três.
– Se ficaram três, então não foi tão esperta.
– Sabe como é. Eu estava tentando me proteger,
mais do que atacar.
– E o Iceberg? E o desastre?
– Isso foi culpa dos caçadores. Quando não me
acharam mais resolveram que afundar o transatlântico era a única maneira de me
deter. Contavam com a água gelada para me matar. Não importava quantos estavam
a bordo. Tinha que cumprir a sua missão. Os três foram até a cabine. E
aceleraram o Titanic mesmo sabendo quelá existia alguns icebergs. Quando senti
que o Titanic havia raspado em um iceberg eu tentei pegar um barco e sair de lá
mas os caçadores me esperavam.
– Você lutou com eles.
– Sim. Joguei dois ao mar.
– Então só ficou um?
– Ele estava mais preocupado em salvar a vida
daquelas pessoas do que me matar.
– Mas não era esse o plano?
– Olha... havia muita gente naquele
transatlântico. Crianças, mulheres e idosos desesperados. Qualquer um que
tivesse vontade ajudaria como pudesse. Eles não tinham culpa. O caçador ajudou
e eu também. Sempre. Claro. Tentando me proteger e pensando em uma maneira de
sair de lá.
– Você poderia ter voado para sair. Ou vampiros
não voam?
– Este era o problema. Os vampiros que voavam não
existiam mais. Eu era a última e nunca consegui voar ou planar ou mesmo me
transformar em um morcego. No máximo eu apenas saltava muito alto. O oceano
gelado poderia me matar.
– Continue...
– David, este era o nome do caçador. Ele se arrependeu.
Não sabia o que fazer e me pedia ajuda para salvar os tripulantes. Tinha mais
de dois mil. E mesmo eu... nem sabia como me salvar.
– E no desespero o que disse para ele?
– Eu abracei David e disse em seu ouvido... Por
favor, posso morder seu pescoço enquanto o Titanic afunda?
– Ele olhou para mim e logo depois mostrou seu
pescoço.
– Fazia tempo que você não transformava alguém em
vampiro.
– Eu queria sobreviver sem concorrentes... Isso
chamaria a atenção. Por isso fiquei muito tempo sem transformar ninguém.
Naquela situação pensei diferente. Mordi pois precisava de ajuda para salvar os
outros e tudo mais. Só que algo aconteceu.
– Como? O que aconteceu?
– A transformação veio rápida demais. Os olhos e
seus dentes nasceram de uma forma muito rápida. E tinha algo que me deixou
espantada.
– Algo como?
– Ele Voava.
– O que? Está me dizendo que você não podia voar
mas quem você transformava podia?
– Isso mesmo . Foi algo que eu não sabia pois
nunca deixei os que mordi vivos ou transformados em vampiros. Sempre os mordia
até a morte até a ultima gota de sangue.
– Acredito que você tinha os sangue dos antigos e
acabou passando isso quando o transformou.
– Eu sempre fui vampira. Nasci com pais vampiros
nunca transformei humanos em vampiros e naquele momento surgiu a oportunidade
de salvar os naufragados do Titanic. David me levou no colo para voar sobre os
que estavam no oceano. As mãos deles direcionados para nós pedindo para
ajudá-los. Alguns já haviam morrido. Outros no barco não nos viam... havia um
tipo de miragem causado pela água gelada que fazia aparecer um tipo de neblina.
Foi quando eu disse para eles... Se eles queriam viver. Mas como vampiros. Como
seres que sugariam sangue pela eternidade. Poucos se recusaram...
– Então você criou uma legião de vampiros.
– Eu não tive escolha. Eu era a última vampira.
Precisava de um legado uma legião para que me protegessem. O que você faria no
meu lugar?
– Bom isso não vem ao caso mas certamente eu
talvez fizesse o mesmo.
– Transformei 312 humanos em vampiros. Como a
transformação era demorada por causa do oceano congelante não consegui salvar
os outros a tempo.
– E todos vocês foram para Nova York?
– Não... fomos para o navio mais próximo. O
Californian. Hipnotizamos os tripulantes para não lembrarem que levaram a gente
e fizemos o mesmo com outros navios até chegarmos em Nova York.
– Então, depois você e seus vampiros vieram para o
Brasil.
– Só eu e o David estamos no Brasil. O resto estão
espalhados pelo mundo.
– Por que o Lúcio está assim? Vai matá-lo?
– Lúcio é um homem perigoso para nós. Não posso
deixar ele ficar contando histórias para todos que conhece.
– Não pode simplesmente fazer esquecer?
– Não! É uma obsessão dele. Sinto muito. Tenho que
levá-lo. Peço que fiquei na mesa. Não faça nada ou posso ser obrigada a fazer
isso com você também.
Roberto olhou a foto. Enquanto ela partia com Lúcio. Ele
sabia que nunca mais veria nenhum dos dois. Quando ele olhou para a cadeira dela
viu a xícara que era do Titanic.
Adriano Siqueira
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