sábado, 24 de março de 2018

Estufilha Eterna - conto Adriano Siqueira


Estufilha Eterna

Aquele gosto de que você tinha muito a dizer e não disse nada. 
Aquela angustia de que se tivesse dito tudo não adiantaria nada.
Aquela vontade que ficou guardada dentro da gente e de vez em quando volta a querer sair, 
de querer se abrir.
O coração esmaga o peito com vontade de explodir.
A vontade de correr sem olhar para os lados e gritar sem parar.
A música que não sai da cabeça e toca, toca sem parar. 
A sede que deixa a boca seca, lábios secos, olhos vermelhos, nariz escorrendo, sour sufocante, coração acelerado, pulsante.
Tudo para. 
Tudo acaba.
Silêncio. 
A porta abre, ela aparece.
Seus olhos famintos monstram a sua necessidade de se alimentar novamente.
Mais uma noite caminha até a cama onde estou amarrado e suga mais um pouco do meu sangue.
Estou preso aqui. Preso nesta eterna angustia delirante.
Onde ela apenas me deixa vivo para garantir a sua vida.
E eu deliro. 
Eternamente.

Por Adriano Siqueira

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