sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Nem tudo que tem coroa é rei

 


Nem tudo que tem Coroa é Rei

Texto e Arte:

Maria Ferreira Dutra


Todas as quintas-feiras seu Reinaldo montava a sua barraca de frutas e legumes em frente a padaria do Galo, localizada na Rua Salvatore em São Gonçalo RJ.

O abacaxi que se achava o rei da barraca, o melhor e mais importante de tudo e todos, ria da amiga banana  que era meio curva e tinha umas manchinhas pretas, falava da maça que  apesar de ter uma cor vermelha bonita, já havia envenenado uma princesa.  Ele achava estranho que em muitos gomos formava uma fruta só,  Dizia que o mamão, que é  amarelo por fora e abóbora por dentro, queria imitá-la, mas não chegava perto de ser igual a ele, pois além de não ter uma coroa, as suas sementes são inúmeras, pretas e ardidas como pimenta. Olhou para a berinjela e disse que ela era bonita mas não tanto quanto ele é e mesmo que ela tenha uma imitação de coroa na cabeça,  jamais seria uma rainha e sim uma berinjela para sempre.

Virou para a  manga que estava perto dela e disse: Sabia que muitos dizem que alimentar-se de você e beber leite a pessoa passa mal?

A uva  se revoltou  e tomou as dores daquela linda e rosada manga  dizendo para o abacaxi que se achava o rei das frutas e essa informação era uma mentira e pode sim tomar leite e comer manga junto e pois é muito gostoso.

O abacaxi riu da cara da uva e disse que, se elas fossem tão saborosas assim quanto ele, elas não sobrariam nas feiras.

As frutas  estavam irritadas com o abacaxi que se achava o melhor das frutas.  

Fizeram uma reunião entre elas e  resolveram não falar mais com ele até o término da feira. 

Se puseram atrás do abacaxi e o dexaram se aparecer sozinho na banca.

Enquanto isso elas tomavam a água que o feirante jogava para as refrescar e conservar.

O abacaxi dizia que não precisava de nada para ficar bonito pois ele já havia nascido belo. Desviou-se da água e esperou calmamente a clientela para levá-lo. 

O calor foi aumentando conforme o dia foi passando. As frutas, menosprezadas pelo abacaxi, estavam lindas e fresquinhas e ele  estava suado, com sede e a língua de fora, estava ficando murchinho com  o calor e os clientes foram passando,  elogiando a beleza das frutas e levando uma a uma.

A banca foi ficando vazia, apenas o abacaxi foi ficando.

Ele então pensou em fazer umas graças para os clientes terem vontade de levá-lo. Fazia careta,  ria , dava cambalhota, tirava a coroa, mas ninguém olhava e ele foi ficando muito triste. Até que uma menina correu para a sua banca, não conhecia aquela fruta achou, esquisito e curioso.  Pediu para a mãe comprar. A mãe disse que ele estava meio feinho, mas como a filha insistiu muito ela resolveu levar. 

Quando Gabriele foi pegá-lo com as suas mãozinhas de criança sensível, a coroa furou a sua mão,  ela chorou muito assustando o abacaxi.

Gabriele chamou ele de feio e disse para a mãe que não queria mais levar o abacaxi. Ele ficou triste e entendeu o quanto é ruim ser rejeitado.  O abacaxi se jogou no chão para chamar a atenção da menina com a queda a sua coroa se quebrou.

Gabriele sentiu pena dele e mesmo com medo, cuidadosamente ela o pegou e o colocou de novo na bancada. O líquido do seu corpo escorreu pelas mãos dela que, ao lamber, achou bom o gosto. Então Gabriela  disse para a mãe que levá-lo.

O abacaxi ficou muito feliz.

E no dia seguinte, sem saber, todas as frutas iriam se encontrar no  mesmo lugar.

Era dia de salada de frutas na escola e cada aluno levou um tipo de frutas.  

E foi a maior novidade na sala de aula. 

Juntos e picadinhos eles deram um colorido e sabor especial para a sobremesa.

Nunca mais o abacaxi se sentiu melhor que os outros. Entendeu que, unidos, todos são melhores.  


E tudo virou festa. 


Texto de Maria Ferreira Dutra





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