A Casa
Amanda Kraft
Era uma casa branca com uma escadaria de pedras cinza, de degraus
quebrados, que conduzia a um alpendre de tábuas escuras. A porta grande, de madeira maciça um tanto gasta, possuía uma aldrava dourada. O andar superior levava aos quartos de janelas retangulares e vidros foscos. Era para lá que meus olhos corriam, sempre que a vislumbrava da calçada, enquanto apertava o passo. Havia algo naquela cena morta que me causava desconforto.
Surgia em meus sonhos me chamando, me torturando com promessas esquecidas ao raiar do dia. Comecei a me sentir irrequieta. Cada movimento pela visão periférica me assustava. Fluía o desejo que me consumia quando pensava nela, em seus corredores escuros, em suas sombras. Refreava-me na consciência e me perdia na inconsciência. Aquela voz sussurrava enquanto me arrastava para junto dela.
Suores me acometiam nos delírios e no afã de adentrá-la, dominá-la e de tê-la para mim. Ansiava por seus recônditos, lançar-me nas mãos da voz que me chamava nos tormentos febris. Venha! Silêncio se fez no meu ser. Tudo se apagou, talvez por dias sem fim.
Os olhos se abriram e fui acometida por uma sede insana. A voz sussurrou meu nome em meio ao escurão da noite. Estendeu-me a mão e, mesmo fraca o segui, mirando seus olhos intensos. Flutuei. Mordi os lábios e senti que os feri. Passei a língua fria por eles e senti a presa pontiaguda. Ele sorriu.
Apaixonei-me e me perdi na volúpia de seus beijos, no ardor dos seus braços para todo o sempre. Voltei para casa.
Escrito por Amanda Kraft
Um comentário:
Um belo conto. Rápido,preciso ao nos apresentar a uma circunstância com atmosfera de sonho! Parabéns!
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