Estou voltando para casa
Por Adriano Siqueira
— Eram 10 horas da noite. Faltava apenas uma esquina para chegar casa. Minhas pernas estavam doendo de tanto andar e o frio não ajudava. Eu estava ansioso para chegar em casa. Queria apenas um bom conhaque e um pouco de conforto.
— Contava os passos para não pensar no frio e nem no cansaço. Quando vi a minha casa dei um sorriso. Que sentimento bom. Eu acelerava os passos. A ansiedade aumentava.
— Ao chegar no portão notei que poucas luzes estavam acessas. Parecia que a noite seria normal e tranqüila. Minha família. As crianças e a Priscila. Quantas saudades.
— Subindo as escadas da frente da minha casa encontrei a porta da entrada aberta. Achei estranho... Não havia nenhum barulho das crianças. Engoli seco. Andei lentamente. A luz da sala estava apagada. Tinha apenas a luz do corredor acessa. Ouvi vozes... Vinha do quarto das crianças que ficava no andar de cima. Atravessei a sala e subi as escadas e fui lentamente em direção ao quarto. Silenciosamente tentava escutar o que eles falavam. Cochichos... À medida que eu aproximava as vozes aumentavam. Finalmente consegui ouvir claramente a conversa.
— Mãe! Foi o melhor que pude fazer!
— Estamos vendo filha...! Rode logo o programa.
— Certo.
— Fátima! A minha filha! E está bem crescida! Ela estava no computador mostrando um programa para toda a família que estavam lá. Minha mãe, minha esposa e filha. Ela apertou a tecla enter e o programa que parece com um 3D começou a funcionar.
— Aqui mesmo mãe. Hoje faz 10 anos que aconteceu! Foi exatamente assim. O ônibus passa por esta curva na estrada, derrapa e cai na ribanceira. Desgovernado o ônibus bate em uma pedra e o Vovô é o primeiro a falecer. Atingido por um ferro que se desprendeu do banco. Sua cabeça foi jogada para fora do ônibus.
— Meu Deus? - Do que eles estão falando?
— Quando o ônibus virou Léo foi o segundo a morrer com traumatismo craniano.
— Léo? Meu filho? Meu Deus!!! Que loucura é essa?
— Quando finalmente o ônibus parou... Papai estava sentado no banco em choque e em seguida entrou em coma e assim ele está até hoje.
— Eu? Em coma?
— Mãe? Acha que ele volta?
— Esperança Filha! Só temos esperança e muita fé!
— Não pode ser! - Sentei perto da beirada da porta e as imagens do acidente passavam pela minha mente.
— É verdade! Devo estar louco mas é verdade! Eu sinto a minha cama. Sinto meus dedos se mexerem! Estou ouvindo a voz dos médicos...
— Desliguem o aparelho.
— Tem certeza senhor?
— Sim! A família autorizou!
— Não!!! Não desliguem!!! Eles não me ouvem! Preciso fazer algo. Eu ainda ouço a minha família falar.
— Mãe! Eu sinto ele!
— Oh Filha! O que esta dizendo.
— Mãe temos esperança não é?
— Eu eu,... Filha eu pedi para desligar!
— MÃE?? Não!
— Eu queria fazer algo! Mesmo sabendo que elas não me vêem. Eu me encostei no computador e ele apitou deu uma piscada na tela e todos ficaram olhando...
— O meu boneco 3d que estava sentando estático levanta e abre os braços. Minha mãe desmaia na hora e a minha esposa corre para o telefone.
— Não Desliguem nada!... Como?... O médico já está lá! Sim sim eu sei que assinei o papel! Por favor! Eu sei que ele está bem!
— Os aparelhos estavam sendo desligados... Eu sentia isso! É mesmo o fim! Não adiantou nada estar aqui! Não sinto mais o meu corpo. Minha mulher chorava muito. Eu tentei acalma-la. A culpa não era dela. Já havia esperado 10 anos. Eu disse:
— Acalme-se! A culpa não é sua!
— Ela levantou a cabeça... - Ele está aqui!
— Ela me ouviu! Realmente ela ouviu! - Querida!
— A voz dele mãe... Ela vem do computador!
— O boneco 3D estava levantando e abaixando os braços. De algum modo ele, agora, era eu!
— Filha... que bom te ver.
— Vejo a minha mãe acordar e chorar de alegria. Eu não sei explicar o que aconteceu. Só sei que voltei para a minha família e agora estamos juntos...
Para sempre.
Autor
Adriano Siqueira
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