segunda-feira, 18 de maio de 2020

A Bailarina que não tinha Sapatilha



Arte desenhada por:
Maria Ferreira Dutra

A bailarina que não tinha sapatilha
Por Maria Ferreira Dutra


Mensagem no grupo de ballet.

— Olá meus amores, estou um pouquinho atrasada, mas estou chegando.

Vinte minutos depois

—  Já estou no condomínio podem me esperar na porta do salão. Só estou batendo o ponto aqui.

—  Tudo bem! - Disse uma das mães para a professora Marcella.                
— Olá alunas e mamães, cheguei. Vamos entrando, vamos entrando.

Todas segundas e quartas a professora Marcella dava aula de ballet para um grupo de alunas entre 3 e 6 anos no primeiro horário que era das dezoito horas as dezoito e quarenta.
Marcella é uma professora muito dedicada e carinhosa com suas  alunas, durante dois meses ela observou que durante as suas aulas uma menina ficava do lado de fora acompanhando as aulas dela e dançando do lado de fora,  no intervalo da aula, Marcella pede para as alunas esperarem um pouquinho que ela já voltava. Marcella então foi de encontro a pequena  menina  e perguntou o seu nome, e ela se apresenta muito timidamente como Desihe. Marcella pergunta se ela gostaria de entrar para fazer uma aula experimental. Desihe abaixou a cabeca e de olhos fechados respondeu que não poderia, pois ela não é moradora do condômino, por isso ela não poderia fazer as aulas que o condomínio oferece. Marcella respondeu que não tinha problema, que ela poderia entrar e pergunta se ela gostaria de entrar. Desta vez com um sorriso no rosto e de cabeça erguida ela diz que sim. A professora então pega a sua mão e a coloca na roda do ballet. Algumas meninas torceram o nariz outra a aceitaram muito bem. A professora começa a dança.  Desihe encontra um pouquinho de dificuldade para acompanhar a dança, se sente envergonhada e pede para sair. Mas duas meninas pede para não sair, uma delas é a Ana Beatriz e a outra a Nicole.
Ana Beatriz Pega na mão dela e a conduz. A Nicole passa o bambole para ela. Desihe agradece e se sente mais confiante. 
Quatro músicas são tocadas durante a aula e aos poucos, Desihe vai melhorando seu desempenho. 

No final da aula Desihe já estava rindo para todas as meninas e as meninas para ela.
A aula acaba e Marcella pede que Desihe não vá embora pois quer lhe dar algo. 
Todas as meninas  se despedem da professora com beijos e abraços e vão embora. Mas Desihe fica ali esperando. 

Marcella chega perto dela e pergunta se ela havia gostado da aula experimental.
Desihe responde que sim que tinha se sentido nas nuvens. Marcella dá um beijo em sua cabeça, pega um papel e uma caneta em sua bolsa escreve alguma coisa e pede para que Desihe entregue o bilhete para a mãe.  Antes de Desihe ir embora  ela diz para a menina voltar a aula de ballet na quarta-feira às dezoito horas.
A menina  responde com a cabeça que sim e vai correndo  entregar o bilhete para a mãe.

Marcella dá um abraço em Desihe  se despede apaga todas as luzes da sala de ballet e vai embora.

Desihe sobe correndo cinco lances de escada, a mãe dela não gostava que ela subisse ou descesse de elevador sozinha, tinha medo que a menina ficasse presa no elevador. 

Esbaforida Desihe toca a campainha a mãe abre a porta e ela sem fôlego entrega o papel para a mãe. 

Dna Suellen a pergunta o que era aquilo e ela responde " foi aquela moça bonita que e ensima as meninas a dançarem que me deu e pediu para te entregar.

Dna Suellen fala com seu jeito simples usando um vocabulário popular.

"—  Mas minha fia,  eu não seio ler direito vou esperar a patroa chegar para ela ler para mim.  Ai! mai eu fiquei curiosa agora.  Deixa eu tentar ler . Olá soi po-fe-ssora di bar-le. Dia dizesseti di maio vamus ter a apre-apre-centacào  du balle po dia das mâe. Si pudé mande a Desihe de sapatilha rosa ou branca, colan e sainha de tule rosa.  Abraço. Tia Marcella. —Caramba até que consegui ler bem, para mim que só tenhu a segunda série eu cunsegui ler bem.  Mas indo vô consegui essa roupa menina e porque essa dona aí está ti pedindo isso minha fia? Você não faz aula com ela?"


— Ela me chamou e eu fiz hoje é ela me pediu para  voltar no outro dia da aula também.

E o dialogo popular continua:
"— Má fia! Cê aceitô? Agora ela vai mi cobrá essa aula, eu num tenhu dinheiro pá pagá. Quanto custa isso? Tô ferrada, agora! Vô tê que tirá cumida da nossa boca pá pagá essa aula."

—  Desculpa mamãe! Eu não queria te deixar chateada. Desihe vai para a varanda chorar por ter deixado a mãe triste e chateada. Nesse meio tempo a patroa chega e vê Desihe chorando e pergunta o que estava acontecendo.

Suellen entrega o bilhete e já vai dizendo que não sabe como vai pagar aquela aula. Sorrindo, a patroa pede para ela não se preocupar que as atividades ali no condomínio são tudo gratuítas e se a professora a chamou é porque gostou dela é só  isso.

E o vocabulário popular se estende pela Suellen:
"— A tá! E esse trem qui ela pidiu? Saia de tule rosa, sapatilha rosa ou branca. Num sei onde compru issu."

— Nem posso te ajudar nessa, sabe que viajo amanhã  e só volto daqui duas semanas.

"— Sei sim patroa, intão ela num vai.  Se fô vai com a ropa que tiver."

— Amanhã você desce e pergunta a alguma mães se conhecem alguém que possa te emprestar alguma sainha, sempre tem álguem para ajudar.

"— Que isso patroa! Eu tenhu  vergonha, nem cunheço ninguém." 

Dias se passaram e chegou o dia da apresentação.

"— Patroa, tô ligando para dizê que hoje sairei mais cedo. É dia da apresentação da Desirhe."

— Tudo bem Suellen,  eu já estava sabendo. É aí consegui comprar ou conseguiu pegar emprestado com alguêm uma roupinha para ela se apresentar?
                       
"— Consegui não patroa, ela vai com um short e mesmo rosa e uma brusa rosa e uma sandalinha rosa. Eu até ia colocar uma sainha pá ela dançar. Minha filha de 6 anos com o bumbum de fora nào gostei não.  Ela tá bunita. Quer ver? Desihe vêm cá fia! Vamus tirá uma foto pá patroa."

—  Ela ficou bonita mesmo. Vai arrasar. Tire bastante fotos e grave também essa princesa.

—  Tá bom patroa,  estou descendo, faltam dez minutos para começá  beijo."

Tudo preparado! Todas as meninas já estavam lá dentro com as mães.

Desihe olha para as meninas e trava na porta, não quer entrar. A mãe insiste e ela vira de costas para não entrar.  A professora a pega com carinho pelo braço e a coloca junto com as outra meninas, mas ela continua de cabeça baixa. Nicole, sua coleguinha, pergunta o que a tava deixando triste e ela a responde

— Vocês estão lindas! Eu não tenho a roupa igual a de vocês e nem sapatilhas eu não vou dançar.

A música  começa e todas começam a dançar menos a Desireh.

Nicole pede licença a professora, pede para ela parar a música.  Em seguida ela tira as suas sapatilhas e entrega para  Desihe e diz no ouvido dela:

— Agora sou diferente  como você, você está de short e e eu sem sapatilhas, agora vamos voar.

Desihe sorri para a Nicole e todas começam a dançar.

Foi uma festa muito linda com muitas fotos comida e bebida e no final da dança todos aplaudiram a iniciativa  da Nicole.

5  anos mais tarde as duas foram estudar ballet em American Ballet Theatre e se apresentaram em vários países pelo mundo a fora. 


Arte: Adriano Siqueira


"Essa história foi criada em homenagem a minha filha Nicole que pediu para que eu escrevesse a história de uma bailarina sem sapatilhas."

Texto
Maria Ferreira Dutra
Dedicado a sua filha Nicole

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