terça-feira, 28 de abril de 2020

A Lenda do Poço




A LENDA DO POÇO

Texto e Arte: Maria Ferreira Dutra

Arte e revisão: Adriano Siqueira




Em Palmares PE, vivia uma família com oito irmãos, sete meninos  e a Sofia, a única menina da casa e acabará de completar seus sete anos.




Conceição a muito contra gosto do seu Antônio matriculou a sua Filha para estudar em uma escola mais perto de sua casa, mas que era distante da sua cidade. O ônibus escolar chegava as seis e vinte cinco da manhã e todos os dias Sofia estava ali prontinha sem, café da manhã e nada de lanche para levar para o recreio. A pobreza era extrema. Mesmo assim Sofia estava feliz por estar indo para a escola.




Ela era uma das poucas meninas que estudava na cidade. Fez o primeiro ano, aprendeu a ler e a escrever gostava muito da escola, se sentia mais livre e descontraída.

A volta para casa não era muito agradável, sua mãe sempre se preocupava com ela e perguntava entre os dentes como tinha sido o dia na escola.

Sofia respondia quase que sussurrando e sempre olhando para ver se o pai estava ouvindo as conversas pelo canto o que era de costume. Muito feliz ela mostrava os exercícios para a mãe que não sabia ler mas fica feliz com o aprendizado e crescimento da filha.

Seu Antônio tossia no quarto ao lado, assustada Sofia guardava tudo correndo,  se sentava numa cadeira e via quando o pai chega na porta da cozinha.

Seu pai pergunta como ela estava e se o almoço estava pronto.  Dna. Conceição dizia que sim e que já ia colocar a mesa. Ele se vira para a filha e perguntava se ela foi para escola estudar ou procurar macho.

Dizia que filha dele tinha que viver sobre o seu cabresto. Acuada ela nem o respondia.  Seu Antônio bebia tanto que nunca sabia onde deixava as coisas, só de ver que a menina estava sentada sem fazer nada pedia para que ela se levantasse e fosse procurar a gimba de cigarro que ele havia perdido.
Ainda era exigente, queria que quando ela achasse levasse para ele  no quarto com o isqueiro vermelho pois os outros estavam falhando.

A filha procurou e não achou. Com medo que o pai brigasse com a filha Dna Conceição pegou um restinho de fumo que havia escondido, pegou um pedaço de papel de pão e fez as pressas uma mirrola.  Sofia correu para entregar ao pai. Ele perguntou pelo isqueiro  Sofia dizia que a Mirrola já estava acesa ele pega e ao berros apaga na cabeça dela dizendo: eu pedi para você me trazer o cigarro com o isqueiro e não esse porcaria acesa, olha como esta todo babado. Sua mãe e você não servem para nada! Some daqui sua ... você é igualzinha  a vaca da sua mãe.

Pegou o pinico e deu uma pancada na cabeça da filha chamando-a de besta.




Sofia Chorou e seu choro foi interrompido quando o pai tirou o cinto da cintura e mandou ela se calar e limpar toda aquela sujeira.

A menina limpou tudo tomou um banho e todos almoçaram. Seu Antônio perguntou que porcaria de comida era aquela que nem os porcos conseguiam comer, pegou o prato e jogou no meio da cozinha, foi para a varanda amolar uma peixeira. Carlos e Emanuel chegam em casa e perguntam ao pai se ele iria caçar pois estava amolando a peixeira. Ele respondeu que não, que só estava amolando para enfiar no bucho do primeiro que o perturbasse.

Os meninos entram de fininho e Antônio bebeu seu gole e jogou um pouquinho no chão para o santo.  Os meninos viram a mãe e a filha chorando. Se abraçaram e diseram que um dia isso tudo iŕá terminar e foram descansar.




Seu Antônio saiu e só voltou a noite com uma garrafa de cachaça um rolo de fumo e duas bisnagas. Entrou em casa e entregou o pão a esposa tirou a camisa e guardou o fumo e a cachaça. Chamou a Sofia e pediu para ela mostrar seu material escolar.

Ao revistar seus cadernos perguntou para que ela queria estudar se o trabalho dela seria ficar em casa tomando conta dos filhos, assim como a mãe dizia que escola era coisa de rico ou mulher à toa.

Os anos se passaram e a Sofia já era uma moçinha. Agora tinha 12 aninhos. Seu coraçãozinho já estava batendo mais forte, estava descobrindo o primeiro amor, cartinhas passavam de mão em mão.  Sofia recebia as suas e escrevia também, mas ela era uma menina tímida, não demonstrava seu amor  tão fácil,  escrevia as cartas para o  Francisco, um rapazinho de 14 anos da sua turma. Mas entregar, jamais, e nunca Francisco leu alguma, ela nunca entregava. Ela preferia expressar seu amor por ele desenhando e escrevendo em seu caderno. Ninguém nunca tinha visto, talvez somente a professora na hora de corrigir a matéria.




Um dia, na hora do recreio, Francisco se aproximou dela e segurou em sua mão, nervosa ela logo a recolheu.

Os dias foram passando e Sofia se apaixonando, começou a trocar olhares com ele, na sala e no recreio.

Seu Antônio estava percebendo mudanças no comportamento da sua filha, ela estava muito aérea e sorridente demais.

Certa noite ele resolveu olhar seus cadernos, coisa que não fazia a algum tempo . Ao folear as páginas  viu várias declarações para Francisco. Enfurecido, bêbado e enciumado, ele pegou um cinto no armário e começou a bater em Sofia que ainda dormia.
Aos gritos, assustada e sem saber o motivo pelo qual estava apanhando só fazia chorar.

Seu pai a xingou de tudo que era nome ,dizia que ela nunca mais voltaria  a escola. Pegou o caderno e esfregou na cara dela mostrando que o Francisco que ela amava nunca mais iria vê-la. Conceição e os irmãos pediam para o Antônio parar de bater na filha, mas Antonio se virou para eles e tirou sua peixeira do bolso dizendo que se alguém se metesse iria se ver com ele. Puxando Sofia pelo braço, a coloca na carroça e saiu com ela de casa. Só retornando cinco horas mais tarde.

Conceição perguntou pela filha e ele dizia que ela estava bem, e que foi para um lugar que ela jamais precisaria estudar. Dizia para Conceição que em breve todos iriam visitá-la todos os dias. Pediu que a mulher arrumasse as trouxas que em três dias eles iriam se mudar. Conceição perguntou o motivo da mudança repentina. Sem dizer uma só palavra deu um tapa na cara dela dizendo que não pediu que ela o indagasse.

Conceição obedeceu e em três dias eles estavam a caminho da outra casa. Era uma casa que ficava distante de tudo e para se conseguir pegar água tinha que andar uns 40 minutos até um poço.

De quatro em quatro dias. Conceição ia com os filhos pegar água para a limpeza da casa e consumo diário. Toda vez que ela ia ao poço se sentia bem. conversava com ele falava sobre a filha que havia sumido a uns cinco anos. Uma lágrima caiu no poço e imediatamente uma folha de papel sobiu, Conceição pediu ao filho Jorge para pegar o balde e cuidadosamente ela tirou aquele papel da água e colocou aberto no chão e pediu para o Jorge ler.

Nele estava escrito "Não chores mamãe! Eu amo todos vocês".

Conceição abismada comentou com os filhos que aquilo parecia uma mensagem da Sofia.

Voltando para casa Conceição mostrou o bilhete para o marido e perguntou para ele onde a menina foi levada pois já se passaram vários anos e ninguém nunca mais viu a Sofia.

Ele respondeu que deixou sobre os cuidados de uma moça que prometeu colocar em uma instituição.

Chorando Conceição o dizia que ele havia dito que a veriamos todos os dias. Mas ele dizia que mentiu que só poderiam ver a Sofia quando ela completasse  a maior idade e que a instituição não aceitava visitas.  Os anos se passaram e Conceição foi ficando doente, a falta da sua filha foi a deixando perturbada, mesmo assim de quatro em quatro dias ela voltavs ao poço. Quarta-feira 12 de junho Conceição estava muito debilitada, mas o marido sempre estava bêbado em casa e seus filhos estavam trabalhando nos canaviais, mesmo indisposta, nesse dia ela tinha que ir sozinha.

No meio do caminho não se sentiu muito bem, estava sem uma gota de água para bebe, cansada resolveu se deitar na carroça e adormeceu  ali.

Um carro branco queria passar mas a carroça o impedia de seguir viagem. Ele saiu do seu carro e foi até a carroça. Percebeu que a dona estava desmaiada e desidratada.

Ele pegou uma garrafa de água no seu carro umidesseu a boca da Conceição a despertando vagarosamente.

Ao ver que ela estava melhor ele perguntou seu nome. Conceição agradeceu pela a ajuda e disse que teria que continuar a seguir o seu caminho pois estava indo buscar água para a Família.

O rapaz se ofereceu para ajudá-la e seguiu com ela, os dois chegam no poço e Conceição começou a falar com o rapaz sobre a filha e disse que falar sobre ela diante do poço lhe dava força para viver.
Parecia que o poço a ouvia e falava com ela.

O rapaz  se sentou a beira do poço para ouvir a história. Abraçou a Conceição dizendo que não sabia o que a Sofia não morava mais com a familia e que sentia muito por todos.

Conceição perguntou de onde ele era e ele ia respondendo quando foi interrompido por uma voz:

"Ele é de Segredinho cidade próxima a que moramos. Ele é o Francisco."

Olhando para o poço Conceição viu uma moça saindo.

Francisco assustado se afasta do poço, mas a moça o tranquilizou pedindo para que não tivessem medo pois, ela só queria abraçar os grandes amores da vida dela. E se apresentou "Eu sou a Sofia."




Nunca mais eles se separaram. Francisco deu parte de seu Antônio que foi preso e internado num manicômio.

Francisco comprou o terreno onde o poço se localizava construiu uma casa e passou a morar com a família onde todos poderiam conversar com Sofia e estar próximo a ela. O poço passou a ser de propriedade particular e essa história passou a ser conhecida por todos na cidade.




Todo mundo que queria realizar um desejo marcou um horário para visitar o poço e ofereceu o que mais Sofia gostava, material de estudo: cadernos, lápis, livros, que no final eram distribuídos para as escolas.

Cinco anos mais tarde uma escola foi construída na região com o nome de: Escola Municipal Sofia Lê. Sabesse que seu Antônio ficou louco de vez e sempre perguntava para os enfermeiros sobre a sua Filha Sofia, e seus familiares que nunca foram visitá-lo.




Como nunca tinha resposta, antônio resolveu fugir do manicômio pela terceira vez. Porém, dessa vez ele escutou a voz da Sofia chamando e ele acompanhou o som da sua voz.




- Pai, pai, vem aqui pai, estou aqui.
- Onde você está filha?
- Estou aqui! Está muito escuro e frio. Eu sempre tive medo de escuro pai. Estou presa aqui! Vem me ajudar.
- Onde filha?
- Quero te ver e me desculpar contigo.
- Mais cinco passos vc chega até a mim.
- Já dei os cincos passos e não te vejo.
- Olha para baixo estou aqui. Segura a minha mão pai.
- Filha você está aqui.



Sofia o puxa para dentro do poço que nunca existiu ali no manicômio.
A tampa foi fechada e a grama cobriu o poço.




Na manhã do dia seguinte, todos procuraram seu Antônio e acharam que ele havia conseguido fugir.

15 anos mais tarde fizeram uma escavação naquele lugar e acharam uma ossada enterrada.




Ficou o mistério para o manicômio. De quem seria aquela ossada?

Investigações começarão.


Texto e arte: Maria Ferreira Dutra
Arte e revisão: Adriano Siqueira

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